Toshio Koketsu trabalha para preservar a cultura japonesa na região

Ele é presidente da associação que reúne 17 entidades nipo brasileira da Alta Sorocabana

Na véspera do Dia de Imigração Japonesa no Brasil, que comemora 104 anos nessa segunda-feira (18), o iFronteira traz o perfil de um dos responsáveis por divulgar e manter acesa a cultura nipônica da região: Toshio Koketsu.

Aos 70 anos, ele é o presidente da Associação Nipo Brasileira da Alta Sorocabana, conhecida como Hansoro, que congrega 17 entidades. Quem o vê tão ativo em seu cargo nem imagina que antes de se empenhar para divulgar e preservar a cultura japonesa, ele precisou lutar para aprender o português, língua para a qual foi analfabeto até os 14 anos.

Seu pai, japonês, veio ao Brasil com 15 anos e sua mãe já era nascida aqui. Koketsu nasceu em Vera Cruz, cidade próxima a Marília, e cresceu em Tupã, imerso à cultura japonesa.

Ele recorda que sua mãe insistia com seu pai para que os filhos pudessem aprender português. “Depois que o Japão perdeu a Segunda Guerra, meu pai percebeu que não havia possibilidade de voltarmos para lá e me perguntou se eu queria ir para a escola. Eu respondi: é a coisa que eu mais quero. Esse foi um dia de muita alegria e minha mãe até chorou”, relembra emocionado.

Desde então, ele passou a ter pátria. “Hoje tenho identidade, sou brasileiro descendente de japoneses. Antes não me sentia nem um, nem outro. Era uma coisa intermediária”, conta.

Mesmo com vergonha, o “marmanjão” que estava na sala de aula das crianças dedicou-se aos estudos, pulou algumas séries e terminou formado em Ciências Contábeis. A profissão de contador foi o motivo que o fez mudar para Presidente Prudente, em 1975, e a qual se dedicou até 2001, ano em que se aposentou.

“Só fui entrar em uma associação depois que me aposentei. Antes disso eu tinha medo de me comprometer e não conseguir colaborar. Primeiro me associei na Associação Cultural Esportiva da Vila Industrial [Acevi], depois na Associação Cultural Agrícola Esportiva [Acae] e depois no Hansoro”, relata.

Em 2008 ele assumiu a presidência da Hansoro, ano também em que foi comemorado o centenário da imigração japonesa. “Em 2007 fui nomeado como presidente da Comissão Organizadora do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil na região da Alta Sorocabana”, afirma Koketsu.

As comemorações ao centenário foram intensas e uma das contribuições que ainda pode ser vista é a Praça das Cerejeiras de Prudente, reformada para a época. Além disso, diversos grupos culturais vieram do Japão para se apresentar e também ensinar os descendentes.

“O centenário foi muito importante para reativar a cultura japonesa, que estava um pouco adormecida. Foi inesquecível. Era algo que eu precisava fazer e tive muito apoio”, ressalta o presidente.

Mesmo ativista, ele se considera realista quanto à situação da preservação da cultura nipônica e diz que muitos esportes e atividades de lazer se perderam com o tempo.

Ainda com as dificuldades, ele acredita que a preservação cultural será feita pela próxima geração. “A cultura japonesa não é passar aquilo como se fosse o Japão, algumas coisas se perderam. Nós estamos continuando e preservando aquilo que realmente serve para conviver aqui com os brasileiros”, caracteriza Koketsu.

Entre os trabalhos na Hansoro e a vida de aposentado, ele aproveita para se dedicar também ao Haicai, poemetos japoneses de 17 sílabas, ao tai chi chuan, arte marcial chinesa, ao karaokê e à prática de shaku hati, flauta com cinco furos feita de bambu ou madeira (assista ao vídeo acima).

E se a vida de Koketsu parece agitada, ela ainda encontra tempo para compartilhar com sua namorada Alice Tanaka. “Fiquei viúvo em 2005, mas sozinho a gente não curte a vida”, reflete.

Ainda com muita disposição, Koketsu pretende continuar ativo nas associações “até quando Deus der saúde” e, no ritmo em que se encontra, é mais que normal que mesmo preservando ele já seja presença marcante na história da cultura japonesa da região.

A partir de hoje, todos os domingos o iFronteira trará o perfil de um personagem do Oeste Paulista.