Em quatro dias, 330 mulheres registraram acusações contra o médium. Promotores já pediram a prisão de João de Deus, mas ainda não há uma decisão. Ele nega os crimes.
O Ministério Público de Goiás convocou a titular da promotoria de Abadiânia, Cristiane Marques, que estava de férias, para reforçar a força-tarefa que investiga as acusações de abuso sexual contra João de Deus. Até quinta-feira (13), 330 mulheres denunciaram o médium ao órgão. Ele nega os crimes.
O jornal "O Globo", a TV Globo e o G1 têm publicado nos últimos dias relatos de dezenas de mulheres que denunciaram o médium. Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.
A força-tarefa iniciou a investigação dos casos na segunda-feira (10), depois que o programa Conversa com Bial divulgou o relato de 10 mulheres que disseram ter sido abusadas sexualmente pelo médium. O órgão criou um e-mail exclusivo para as denúncias: denuncias@mpgo.mp.br .
Para colher o depoimento das mulheres que não moram em Goiás, o MP-GO preparou uma sala de videoconferência. Nela, ficam os promotores de Goiás que participam da força-tarefa, duas psicólogas e dois tradutores de línguas estrangeiras.
“Temos casos fora do Brasil, por isso, temos a necessidade de acompanhamento para ajudar a gente a esclarecer todas essas situações”, afirma o procurador-geral do órgão, Benedito Torres.
Compõem a força-tarefa:
Promotores:
- Cristiane Marques - promotora de Abadiânia;
- Steve Gonçalves Vasconcelos - promotor de Alexância que estava em substituição na promotoria de Abadiânia;
- Luciano Miranda Meireles - coordenador do Centro de Apoio Operacional (CAO) Criminal;
- Paulo Eduardo Penna Prado - subcoordenador do CAO Criminal;
- Patrícia Otoni Pereira - coordenadora do CAO dos Direitos Humanos;
- Gabriella de Queiroz Clementino - integrante do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Psicólogas:
- Liliane Domingos Martins
- Lícia Nery Fonseca
Assim como o MP-GO, a Polícia Civil montou uma força-tarefa para apurar os casos. A corporação informou que, até quinta-feira (14), recebeu 14 denúncias formais, sendo que 13 mulheres já foram ouvidas.
"Esse tipo de delito é um delito que ocorre escondido. Então, há maior dificuldade na coleta de provas. estamos preocupados em confeccionar e fortalecer essas provas", disse o delegado-geral de Goiás, André Fernandes.
Abusos teriam acontecido na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás — Foto: Murillo Velasco/ G1
Pedido de prisão
O MP-GO protocolou, no fim da tarde de quarta-feira (12), o pedido de prisão preventiva de João de Deus, após a força-tarefa receber centenas de denúncias de supostas vítimas do médium.
O pedido deve ser analisado pelo juiz Fernando Chacha, que é responsável pela comarca de Abadiânia. A assessoria do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) informou ao G1 que não pode confirmar nenhuma informação porque o caso está em segredo de Justiça.
Continuidade dos atendimentos
A defesa do médium protocolou, na quinta-feira, no Fórum de Alexânia, um pedido para o que João de Deus continue os atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola, mesmo que , para isso, seja filmado ou tenha a presença de policiais. O objetivo é que os trabalhos na casa não sejam prejudicados e para que não haja a suspeita sobre continuidade de crimes.
“Muitas pessoas são beneficiadas com o tratamento e vão em busca do João de Deus. Então, para que ele possa continuar os atendimentos sem causar um embaraço à Justiça, parecer uma afronta, pedimos para que, se o juiz julgar necessário, coloque câmeras no local e até policiais para ver que o trabalho é feito com lisura”, disse o advogado Alberto Toron.
O defensor explicou ainda que já havia feito outro pedido à Justiça, para que possa marcar uma data para que o médium seja ouvido. Toron relatou que ainda não teve acesso ao teor dos depoimentos das vítimas e nem ao pedido de prisão.
“Ele tem 76 anos e uma larga folha de serviços prestados. Os depoimentos têm que ser apurados com rigor. É necessário ter cuidado para que João de Deus não seja submetido a um linchamento público antecipado”, completou.
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