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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Comida e emoção: você tem fome de quê?

Degustar um alimento é um dos prazeres que temos e não apenas pelo paladar, mas também pela presença de outros ingredientes que estão ao redor da comida como a reunião com as pessoas que gostamos, a família ou os amigos. Através da comida podemos ter experiências afetivas ou profissionais, uma vez que em alguns jantares se realizam grandes negócios ou encontros amorosos. Isso sem contar, ainda, as comemorações, seja por conquistas pessoais ou as datas festivas.
O ato de comer tem também outras funções, já que as pessoas se alimentam pelos mais variados motivos e não apenas pra saciar a fome, como aquelas que buscam resolver, por meio da comida, suas dificuldades como a ansiedade, a depressão, o estresse ou até mesmo engordando por medo de viver a própria sensualidade. Comem porque estão tristes, ou porque perderam o emprego ou estão com raiva de alguém. A ansiedade, por exemplo, é uma aliada daquele que, sem perceber, belisca um alimento aqui, outro ali e, consequentemente, ganha peso. Os motivos são variados, mas fica clara a função da comida pra preencher um vazio emocional.
Estes fatores devem ser cuidadosamente observados para compreender qual deles é a razão que leva a pessoa a utilizar a comida como forma de extravasar seus sentimentos negativos, pois tudo isso repercute na autoimagem, na qualidade de vida, nas relações afetivas, sociais e até profissionais, causando mais desconforto ainda ao individuo, gerando um círculo vicioso, eis que acaba buscando compulsivamente o prazer na comida para compensar suas frustrações.
No entanto, é justamente esta forma de compensação que vai gerar mais frustrações, levando a pessoa a buscar soluções imediatas através, por exemplo, dos moderadores de apetite ou dietas radicais, que alteram seu humor prejudicando a relação consigo e com o outro.
O bebê na sua relação com a mãe percebe suas primeiras gratificações - ou não- do meio externo através do seio materno, ou mamadeira. Isso ocorre na forma como a mãe oferece este leite, o acolhe através do contato físico ou do olhar, suas palavras de carinho, etc., demonstrando assim que, já no inicio da vida, o ser humano percebe a comida não só como uma necessidade fisiológica, mas emocional também. Uma mãe ansiosa ou que tenha uma expectativa de que saúde esteja associada a ganho de peso, pode nutrir em excesso seu bebê desencadeando um sobrepeso. É desta forma que o ser humano passa a associar comida a afeto e este significado vai se ampliando ao longo da vida.
A psicoterapia auxilia o indivíduo a refletir sobre seu comportamento, ajudando-o a substituir os prazeres imediatos, representado pela comida, por outros mais duradouros. O ponto de partida é se responsabilizar pela vida emocional, sem utilizar o alimento como fuga, permitindo um novo estilo de vida mais saudável que inclua a percepção de si e do seu agir no mundo.
Joselene L. Alvim


Psicóloga/neuropsicóloga

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