Prefeitura multará em R$ 3 milhões dono de mansão no Leblon que teria causado desastre no Túnel Acústico

Lixo acumulado em imóvel causou deslizamento de 140 toneladas, que provocou queda de uma estrutura na via no mês passado

RIO — O desastre do Túnel Acústico Rafael Mascarenhas — que despencou em 17 de maio, numa sexta-feira de trânsito caótico — teve um desdobramento imprevisível. Numa cidade com encostas ocupadas irregularmente, a prefeitura identificou que o deslizamento de lixo que provocou o acidente veio de uma mansão do Jardim Pernambuco, no Leblon, uma das áreas mais nobres do Rio. O dono do imóvel, cujo nome não foi informado pelo município, que alegou que o proprietário está protegido pelo sigilo do contribuinte, receberá uma multa de R$ 3 milhões, conforme antecipou o jornalista Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO. O valor foi calculado com base nas obras necessárias à recuperação da via.

Com as chuvas, o lixo acumulado no imóvel desceu encosta abaixo. Junto com a lama, foram encontrados durante a limpeza pneus, garrafas de vinho e até geladeira. O cálculo da Comlurb é de que foram retirados da montanha que caiu sobre a estrutura do Acústico cerca de 140 toneladas de resíduos.

A investigação que chegou ao imóvel foi feita pela Geo-Rio, que está no chapéu da Secretaria municipal de Infraestrutura. No laudo, o órgão, responsável pela fiscalização das encostas, considerou que o deslizamento ocorreu devido à grande quantidade de entulho descartado de forma irregular no terreno da casa, que fica bem próxima do túnel. “O acúmulo de lixo, que também obstruiu as estruturas de drenagem superficial existentes, levou a uma forte concentração de águas pluviais, causando, por sua vez, a mobilização de solo e lixo que impactou sobre a cobertura do túnel em trecho no sentido Gávea, ocasionando sua ruptura”, diz o relatório da Geo-Rio.

História de descuido

Por pouco, não houve uma tragédia. Quando parte do teto do túnel caiu, um ônibus foi atingido, mas o motorista conseguiu jogar o veículo para o lado, evitando o soterramento. Nem ele nem os dois passageiros, que estavam nos bancos traseiros, se feriram. O acidente provocou a interdição da área, principal ligação entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca, na Zona Oeste.

A multa, que será aplicada na semana que vem, foi motivo de comentários de vizinhos. No endereço que corresponde ao local de deslizamento, na Rua Embaixador Graça Aranha, há uma casa que está vazia há pelo menos seis anos, desde a morte dos proprietários. Do alto, destaca-se uma grande área verde e uma piscina. A quadra de tênis, que também é vista nas imagens, seria de um imóvel que fica ao lado, aparentemente distante do ponto onde houve o deslizamento. Por fotos, é possível ver bem destacado o trecho desmatado, já que parte da vegetação escorregou junto com o pedaço de encosta. Procurado, o caseiro que toma conta do terreno não quis comentar a suspeita de que toneladas de entulho tenham despencado do local.

Ônibus atingido pela estrutura que desabou: motorista fez manobra para evitar que passageiros fossem feridos Foto: Richards Santos / Prefeitura do Rio

Segundo moradores do Jardim Pernambuco, apenas um caseiro vive na residência. No processo do espólio, só foi possível localizar um advogado que representava um dos herdeiros, mas ele já não atua mais na causa.

Para o presidente da Associação de Moradores do Jardim Pernambuco e Visconde de Albuquerque, Carlos Augusto Montenegro, o causador do desabamento deveria responder criminalmente. Ele ficou surpreso com a notícia de que o acidente no Túnel Acústico tenha acontecido por conta do descarte irregular de uma única casa.