Fuga de uma paciente alertou policiais sobre uma chácara em Itariri, no interior paulista, onde ocorriam torturas a mais de 10 pessoas, entre adultos e adolescentes.
Uma clínica para tratamento de dependentes químicos foi fechada, pela Polícia Civil em São Paulo, após pacientes internados pedirem ajuda e afirmarem que eram vítimas de torturas constantemente. O estabelecimento, que estava em condição irregular, localizava-se em uma chácara no Centro de Itariri, na região do Vale do Ribera, interior paulista.
A fuga de uma interna, no fim da tarde de sexta-feira (31), alertou investigadores da cidade sobre as atividades ilícitas do local. Segundo apurado pelo G1 na manhã deste sábado (1), as suspeitas foram reiteradas no mesmo dia, após policiais militares serem acionados por um cuidador para verificarem uma possível briga ocorrida entre os pacientes da clínica.
No local, policiais militares e civis encontraram 16 pessoas internadas, entre elas seis menores de idade. As equipes se depararam com ambientes sujos e mal conservados, uma piscina sem proteção para evitar eventuais acidentes e remédios espalhados por todos os cômodos do imóvel, sem qualquer controle.
Os pacientes estavam sob responsabilidade de três cuidadores, também internos, que passaram por tratamento e foram colocados como responsáveis pelos demais colegas. O trio foi enquadrado como testemunha do caso, uma vez que não foi comprovado qualquer vínculo com os responsáveis pela clínica.
Aos policiais, os pacientes afirmaram que, em ocasiões diversas, eram agredidos com pedaços de madeira com as inscrições 'A cura' e 'Só por hoje'. Um taco de beisebol de plástico e um facão também foram apontados como elementos de tortura. Todos os objetos foram encontrados no local e apreendidos como provas.
As vítimas também informaram que tinham pouco contato com familiares, e que, quando ocorriam ligações, eram feitas sob supervisão dos responsáveis pela clínica, que os ameaçavam para dizer que estavam bem e se recuperando. Parentes, em contato com a polícia, afirmaram desconhecer as agressões.
Os internos disseram, ainda, que recebiam medicamentos controlados de maneira aleatória, sem qualquer orientação médica, e que também eram jogados na piscina durante a noite enquanto dormiam. Segundo a polícia, eles ainda eram alvos de xingamentos e agressões verbais, rotineiramente, pelos funcionários.
Diante da situação, uma força-tarefa com a prefeitura foi acionada. Conselheiros tutelares ficaram com a responsabilidade de cuidar dos menores, enquanto médicos, psicólogos e psiquiatras fizeram a assistência dos adultos, até que os respectivos familiares se apresentassem na delegacia para acompanhá-los.
Dois homens e uma mulher foram identificados como donos da clínica, mas ainda não foram localizados pela Polícia Civil. O local, que funcionava sem autorização da administração municipal, foi fechado, e o proprietário da chácara, comunicado. O caso segue em investigação para identificar outras vítimas.
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