Entre janeiro e outubro deste ano, mais de 1 milhão de hectares já foram queimados em unidades de conservação federais, o que equivale a sete vezes a área da cidade de São Paulo. O número supera o do mesmo período de 2016, em parte devido à destruição na Chapada dos Veadeiros.
A área de unidades de conservação federais atingida por incêndios no país já supera a do mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pelas unidades. Entre janeiro e outubro deste ano, 1.092.177,03 hectares já foram destruídos por queimadas – o que equivale a sete vezes a área da cidade de São Paulo. No mesmo período do ano passado, foram 1.088.189,92 hectares, quase 4 mil hectares a menos.
Apenas no mês de outubro, um balanço preliminar do instituto aponta que pelo menos 185,6 mil hectares foram atingidos pelo fogo em unidades federais de todo o país, quase o dobro do registrado em outubro do ano passado (97,9 mil hectares). Como o mês ainda não acabou, a diferença deve aumentar.
Parte considerável da destruição do mês está no Parque Nacional da Chapada do Veadeiros, que passa pelo maior incêndio da sua história. A queimada já atingiu mais de 65 mil hectares. Segundo o ICMBio, o fogo já foi controlado na maior parte da reserva, mas cerca de 400 pessoas, entre voluntários e brigadistas, seguem trabalhando 24 horas por dia para evitar que novos focos surjam.
Além disso, o instituto registra fogo em outras 16 unidades de conservação, como o Parque Nacional da Serra das Capivara, o Parque Nacional da Serra da Canastra e o Parque Nacional do Araguaia. Nenhum, porém, é tão devastador quando o que atinge a Chapada.
O mês de setembro também foi considerado incomum pelos especialistas, com uma área atingida por incêncios 83% maior que a do mesmo mês do ano passado.
QUEIMADAS
Veja a comparação entre 2016 e 2017 da área atingida por incêndios em unidades de conservação federais, em hectares
Fonte: ICMBio
Segundo Christian Berlinck, coordenador de prevenção e combate do ICMBio, o tempo mais seco que o normal nestes dois meses, com temperaturas elevadas, ventos fortes e umidade abaixo de 15%, foram responsáveis pelos números elevados.
Ele explica que, no país, usa-se fogo o ano inteiro nos setores de agricultura e pecuária. Normalmente, até julho, o fogo não evolui muito por conta do clima mais úmido, com vegetação verde, que facilita o trabalho das brigadas.
"Setembro e outubro deste ano foram extremamente secos. Chegamos ao auge da seca, então qualquer fogo que perde o controle cresce muito rápido."
O coordenador cita os incêndios que atingiram a Califórnia, nos Estados Unidos, e diversas regiões de Portugal também em outubro, deixando dezenas de mortos.
Além disso, setembro foi o mês com o maior número de queimadas da história do país, segundo a série do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), iniciada em 1999. Foram 110.736 focos.
Incêndios criminosos
Apesar de as condições climáticas dificultarem o combate aos incêndios, Berlinck destaca que o início das queimadas não é natural em muitos casos. Na Chapada dos Veadeiros, a Polícia Civil trabalha com a hipótese de incêndio criminoso.
"É fato [que o incêndio da Chapada foi criminal]. A maior parte dos incêndios que tomam grandes proporções é criminosa. Ocorrem em momentos mais quentes do dia e a favor do vento."
Segundo ele, estes incêndios geralmente são iniciados com fósforos e isqueiros em regiões próximas de trilhas, ou mesmo com mecanismo retardante, como colocar uma vela dentro de uma lata. "A vela queima e atinge a grama. Isso dificulta a identificação do autor, pois ele faz isso, sai andando e o fogo só começa depois de meia hora."
Apesar de os incêndios poderem não ser intencionais, Berlick acredita que o da Chapada foi doloso, pois o fogo está reaparecendo em áreas em que já havia sido controlado. Ele diz não saber quais as motivações. "Não temos hipóteses. Primeiro, estamos preocupados em controlar o fogo."
Próximos meses
Berlick acredita que os incêndios devem continuar nas unidades de conservação nos próximos dois meses do ano, pois a expectativa de chuva está abaixo do normal. "No final do ano, começam as secas no sul no Nordeste, no estado da Bahia. Também tem seca no Rio Grande do Sul, em Roraima e no Amapá. Devemos começar a ter problemas nessas áreas", diz.
Ele afirma que o balanço da área atingida por queimadas nas UCs federais deve ser semelhante ao do ano passado, que fechou com 1.170.654,30 hectares destruídos. "Se a gente não estivesse tão estruturado e organizado e não tivesse investido tanto em prevenção, seria maior."
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