Colônia de pescadores e Aestur expõem problema e pedem fiscalização.
Principal espécie atingida é o tucunaré, capturado por turistas.
A Colônia de Pescadores de Presidente Epitácio e a Associação de Empreendedores de Serviços Turísticos (Aestur) temem que um crime possa prejudicar tanto a atividade pesqueira quanto os serviços de turismo da cidade: a pesca predatória no Rio Paraná. As duas instituições confirmam que nas pousadas, que movimentam cerca de R$ 1 milhão por mês, funcionários encaminham visitantes para pontos estratégicos e capturam peixes além do permitido por lei.
De acordo com o presidente da colônia, Carlos Roberto Gorre, é visível que muitos grupos levam animais além do liberado. “Vemos pessoas levando 30 kg ou 40 kg de pescados, quando o permitido para não-profissionais é apenas 10 kg mais um exemplar, de qualquer peso e espécie. Isso prejudica ambos os lados. Ainda não fomos tão afetados por isso, mas esta situação pode causar um desequilíbrio ambiental e sofreremos com a falta de peixes ou alteração da cadeia biológica”, declara.
Gorre explica que um dos peixes mais levados é o tucunaré. “Os turistas querem muitos deles. Isso é predatório. Logo o tucunaré se tornará escasso. Quase 100% dos visitantes leva este tipo de pescado. É necessário uma fiscalização mais eficaz nos rios e nas saídas pelas rodovias para evitar este crime”, explica.
O presidente da colônia lembra que a maioria destas pessoas que praticam a pesca irregular estão hospedados em pousadas, o que é confirmado pelo presidente da Aestur, Paulo César Martins, que reúne 45 estabelecimentos do ramo em Epitácio.
“Sabemos que muitas pousadas colaboram com este problema. Alguns dos 'guias de pesca', ou seja, pescadores profissionais que conduzem as embarcações até pontos onde a atividade é melhor desenvolvida, possuem a habilitação de profissionais da área e conseguem carregar uma maior quantidade de peixes nos barcos. Depois os turistas ficam com a mercadoria”, explica Martins.
O responsável comenta que a grande extensão do Rio Paraná na cidade, que consiste em cerca de 70 km de águas, dificulta o trabalho de fiscalização, realizada pela Polícia Militar Ambiental. “Isso permite que muitos deixem de se preocupar com possíveis punições. Alguns chegam a capturar cardumes inteiros de tucunarés”, relata.
Também dono de pousada, Martins teme pelo futuro da atividade turística. “Alguns recintos querem apenas oferecer um maior divertimento aos seus recepcionados, mas esquecem do prejuízo que isto pode acarretar. É um dano ambiental que pode afetar o turismo. Se os tucunarés acabarem, muitos deixarão de visitar Epitácio”, afirma.
De acordo com o economista e especialista em gestão de recursos ambientais, Eduardo Schebuk, o tucunaré não é típico da região, porém acredita-se que o represamento do Rio Paraná tenha incorporado algum lago privado que continha exemplares da espécie, por volta de 2002, que se proliferaram. “O problema é que, com a pesca intensa, eles têm pouco tempo para se reproduzir e acabam ficando pequenos, principalmente quando comparados com exemplares de outras localidades”, diz.
O especialista afirma que a relação entre donos de pousada e os condutores de pesca é ruim. “Os guias tentam agradar o cliente e estão preocupados em pegar mais peixe. Ultrapassam os limites máximos. Isso gera um ciclo: turistas pescam mais e os pescadores buscam novas soluções para capturar mais peixes. Isso pode gerar um prejuízo ambiental irreversível. Precisamos proteger as espécies, ainda mais em uma estância turística como Presidente Epitácio”, conta.
Fiscalização
A Polícia Militar Ambiental informou, por telefone, que a fiscalização é feita constantemente em todo o Rio Paraná de forma estratégica, porém concorda que o trecho é bem extenso. Um posicionamento oficial foi requerido, mas até o momento desta publicação, não houve retorno. OG1 também tentou entrar em contato com a Secretária de Turismo da cidade, porém foi informado de que o secretário Frank Zocante não estava e que “não havia ninguém que poderia comentar o assunto”.
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