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domingo, 11 de maio de 2014

Após referendo, rebeldes anunciam criação do próprio exército na Ucrânia

Exército de Kiev será considerado 'ocupante' após pleito, dizem líderes.
Potências ocidentais dizem que não reconhecerão o resultado.


Um líder separatista de Donetsk, região no leste da Ucrânia, anunciou na tarde deste domingo (11) que o grupo de rebeldes da autoproclamada "república popular independente" de Donetsk criará seu próprio governo e exército após a consulta pública à população sobre a separação da região, segundo a agência de notícias Reuters. Dois referendos foram realizados neste domingoem Donetsk e na região vizinha de Lugansk.
À Reuters, o líder separatista afirmou ainda que as forças do governo de Kiev, a capital do país, serão consideradas "ocupantes" a partir de agora. A agência afirmou que alguns confrontos foram registrados na região, na cidade de Slaviansk.
Vasily Nikitin, chefe de imprensa da comissão eleitoral do referendo de Lugansk, afirmou neste domingo que o comparecimento às urnas foi "alto", apesar do que ele chamou de tentativas do governo ucraniano e da guarda nacional de impedir o trabalho dos membros da comissão.
"Gostaria de anunciar oficialmente que hoje [domingo], em três regiões, ou até quatro, nossas comissões não puderam operar. Carros com cédulas e protocolos foram bloqueados por tropas, pela guarda nacional. Pessoas armadas pararam nossos carros, que eles bloquearam para que não eles pudessem ir a lugar algum", afirmou Nikitin.
Nas cédulas produzidas às pressas pelos rebeldes pró-russos aparece a pergunta: "Você está de acordo com a independência da República Popular de Donetsk?" ou "Você está de acordo com a independência da República Popular de Lugansk?". Há duas únicas opções de resposta, sim ou não, informou a agência France Presse.
De acordo com a agência EFE, os organizadores do pleito afirmaram que a participação no referendo pró-Rússia chegava a 65% em Lugansk e passava de 32% em Donetsk ao meio-dia local deste domingo (6h no horário de Brasília), quatro horas após serem abertas as seções eleitorais nas duas regiões.
Veja no mapa a divisão de interesses entre as regiões da Ucrânia (Foto: Editoria de arte/G1)
"Eu queria vir o quanto antes", disse Zhenya Denyesh, uma estudante de 20 anos, à Reuters. "Todos nós queremos viver em nosso próprio país", acrescentou. Perguntada sobre o que o referendo, organizado em semanas por rebeldes, iria resultar, ela respondeu: "Ele ainda vai ser uma guerra".

Na vizinha Mariupol, palco de violentos combates na semana passada, as autoridades disseram que havia apenas 8 centros de votação para meio milhão de pessoas. Moscou nega qualquer papel na rebelião.

Consequências
A consulta, que pode ter consequências históricas, é considerada ilegal por Kiev e pela comunidade internacional. "[A separação da Ucrânia] seria um passo para o abismo para essas regiões. Aqueles que defendem a autonomia não entendem que isso significaria a destruição total da economia, dos programas sociais e da vida em geral, para a maioria da população nessas regiões”, afirmou o presidente ucraniano em exercício, Aleksander Turchinov, que considera as votações ilegais.

Em março, a Crimeia votou pela independência da Ucrânia e passou a ser governada pelas leis russas, apesar de o resultado da votação, que foi feita à revelia do governo ucraniano, não ser reconhecida dos organismos internacionais.

Diferentemente do que ocorreu com a Crimeia, as novas consultas populares não são regiões autônomas, mas podem iniciar um processo que permitirá a Rússia avançar ainda mais sobre o território da Ucrânia.

Caráter simbólico
Mesmo que esses grupos separatistas não representam o poder constituído –sua ocupação de prédios governamentais foi feita à força–, a consulta tem um caráter simbólico do clima pró-Rússia instaurado na região, onde a maioria da população fala russo, e o resultado pode acirrar ainda mais os ânimos. A Crimeia, península agora controlada pela Rússia, por outro lado, já era uma região autônoma que, embora pertencesse à Ucrânia, possui parlamento próprio. Portanto, ela tinha poder para realizar a consulta de 16 de março em que 96,8% da população votou por trocar a Ucrânia pela Rússia.

Porém, em ambos os casos, a comunidade internacional não reconheceu a legitimidade dessa opção.

A Ucrânia possui 45 milhões de habitantes, dos quais 16% moram em Donetsk e Luhansk, regiões que concentram as atividades mineradora e industrial do país. Próximas às margens do rio Donets, as atividades de extração de ferro e carvão mineral tornam as localidades uma das mais densamente povoadas da Ucrânia.

Nas duas regiões, rebeldes tomaram vários prédios governamentais. Em 6 de abril, os grupos presentes em Donetsk autoproclamaram uma “república popular independente”. "O referendo é o único meio de evitar a escalada da violência e da guerra", declarou o diretor da comissão eleitoral de Donetsk, Roman Liaguin. "Se a resposta ao referendo for 'sim', isto não significa que nossa região vai unir-se à Rússia", afirmou. A organização montou 1,5 mil postos de votação.

Militares ucranianos se reúnem em um posto de controle do lado de fora da cidade portuária do sudeste de Mariupol  (Foto: Reuters/Marko Djurica)Militares ucranianos se reúnem em um posto de controle do lado de fora da cidade portuária do sudeste de Mariupol (Foto: Reuters/Marko Djurica)
Homem armado pró-Russia vota durante referendo em Lugansk (Foto: Reuters/Valentyn Ogirenko)Homem armado pró-Russia vota durante referendo em Lugansk (Foto: Reuters/Valentyn Ogirenko)
Ucranianos carregam bandeiras e cartazes em Simferopol, capital da Ucrânia, em apoio aos referendos (Foto: AFP)Ucranianos carregam bandeiras e cartazes em Simferopol, capital da Ucrânia, em apoio aos referendos (Foto: AFP)

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