Alberto Fernández afirma, entretanto, que Brasil é o principal sócio da Argentina e presidente brasileiro é apenas 'circunstância da vida'
BUENOS AIRES — O candidato da oposição à Presidência da Argentina, Alberto Fernández , companheiro de chapa da ex-presidente e senadora Cristina Kirchner , respondeu na noite de segunda-feira às críticas feitas a eles pelo presidente Jair Bolsonaro, a quem classificou de "racista, misógino e violento". Fernández, entretanto, disse que o presidente brasileiro é apenas uma "circunstância da vida" e que pretende manter boas relações com o Brasil.
— Em termos políticos, eu não tenho nada a ver com Bolsonaro. Comemoro enormemente que ele fale mal de mim. É um racista, um misógino, um violento. O que eu pediria ao presidente Bolsonaro é que deixe Lula livre e pediria que se submeta a eleições com Lula em liberdade — disse Fernández, que obteve uma vitória esmagadora contra o presidente Mauricio Macri, candidato à reeleição, nas eleições primárias realizadas no domingo.
As declarações foram feitas horas depois de Bolsonaro, que vem apoiando abertamente a reeleição de Macri, dizer que o Brasil poderia ver " irmãos argentinos fugindo para cá " caso o que ele chama de "esquerdalha" vença as eleições presidenciais de 27 de outubro. Na segunda-feira, auxiliares do presidente ligados à ala ideológica do governo não descartaram nem sequer rever a participação do Brasil no Mercosul caso a vitória da chapa Fernández-Kirchner se confirme.
Durante a entrevista, concedida ao programa de televisão Corea del Centro da emissora Net TV, o ex-chefe de Gabinete de Néstor Kirchner (2003-2007) buscou ressaltar a boa relação entre Brasil e Argentina, afirmando que o governo Bolsonaro é apenas uma "conjuntura da vida":
— Com o Brasil, teremos uma relação esplêndida. O Brasil sempre será nosso principal sócio. Bolsonaro é uma conjuntura na vida do Brasil, como Macri é uma conjuntura na vida da Argentina.
Ao canal de televisão, Fernández também criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que classificou como um bom líder para seu país, mas não para o mundo.
No início de julho, Fernández visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na carceragem da PF em Curitiba e prometeu se manter ao lado do brasileiro, que cumpre pena de oito anos e dez meses de prisão no caso do triplex do Guarujá.
— Sou professor de Direito Penal na Universidade de Buenos Aires há mais de 30 anos e vejo com muita preocupação a detenção de Lula — disse Fernández na ocasião. — Talvez o governo brasileiro não perceba que esteja criando uma mácula muito grande ao manter preso um nome como Lula.
As primárias de domingo na Argentina funcionaram como uma megapesquisa das eleições presidenciais de 27 de outubro. Como não havia disputa interna nos partidos, o importante era saber qual a proporção de eleitores que votaria em cada chapa. Com 99,37% das urnas apuradas, Alberto Fernández , que tem a ex-presidente e senadora Cristina Kirchner como vice, teve 47,66% dos votos. Macri, candidato à reeleição e que tem o apoio declarado de Bolsonaro, recebeu 32,09% dos votos, uma diferença de menos 15 pontos percentuais. Na Argentina, para vencer no primeiro turno é necessário ter 45% dos votos ou 40% com uma diferença de ao menos 10 pontos sobre o segundo colocado.
O temor de que Macri não seja reeleito em outubro, associado à guerra comercial entre Estados Unidos e China, levou o dólar a fechar a segunda-feira em alta no Brasil, próximo de R$ 4, e a bolsa a recuar . Na Argentina, na segunda, o peso se desvalorizou, a Bolsa despencou e o BC, em reação, elevou os juros a 74% ao ano.
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