Brasil teve 72 mil focos de incêndio em 2019, 80% a mais que em 2018, e metade deles ficam na Amazônia. Presidente não apresentou provas, mas disse que o 'sentimento' dele é que queimadas têm objetivo de enviar imagens ao exterior.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (21) que organizações não governamentais (ONGs) podem estar por trás de queimadas na região amazônica para “chamar atenção” contra o governo do Brasil. O presidente não citou nomes de ONGs e, questionado se há embasamento para as alegações, disse que não há registros escritos sobre as suspeitas.
Segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia concentra 52,5% dos focos de queimadas de 2019 no Brasil. O G1 mostrou que o número de queimadas aumentou 82% em relação ao mesmo período de 2018 – de janeiro a 18 de agosto.
De acordo com Bolsonaro, o governo precisa fazer o possível para que esse tipo de crime não aumente, mas disse que sua gestão retirou dinheiro que era repassado para ONGs, o que poderia justificar uma reação das instituições.
“O crime existe, e isso aí nós temos que fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tiramos dinheiros de ONGs. Dos repasses de fora, 40% ia para ONGs. Não tem mais. Acabamos também com o repasse de dinheiro público. De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro”, declarou o presidente na saída do Palácio da Alvorada, ao ser questionado sobre a onda de incêndios na região.
“Então, pode estar havendo, sim, pode, não estou afirmando, ação criminosa desses 'ongueiros' para chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, acrescentou.
Bolsonaro disse que seu "sentimento" é de que os incêndios criminosos têm o objetivo de enviar as imagens para o exterior. Perguntado se há investigação sobre o tema, ele disse que esse tipo de caso não tem registros escritos.
"O fogo foi tocado, pareceu, em lugares estratégicos. [Tem] imagens da Amazônia toda. Como é que pode? Nem vocês teriam condições de todos os locais estar tocando fogo para filmar e mandar para fora. Pelo que tudo indica, foi para lá o pessoal para filmar e tocaram fogo. Esse que é o meu sentimento", afirmou.
Questionado pelo G1 sobre se há alguma investigação do governo para embasar esse "sentimento", Bolsonaro respondeu que isso "não está escrito".
"Cara, vocês têm que entender uma coisa que isso não está escrito, não está escrito. Não têm um plano para isso aí. Isso é conversa, pessoal faz, toma decisão e ponto final. Você pode ver, pega o que se manda verbas bilionárias, 40% para ONG, essa ONG vai para mão dessas pessoas para ficar rodando a Amazônia e ficar fazendo campanha contra nós o tempo todo. Perderam a boquinha também", disse o presidente.
Conforme Bolsonaro, o governo “não está insensível” para as queimadas e avalia medidas a serem adotadas com os ministérios da Defesa e do Meio Ambiente. Ele disse ainda que ONGs representam "interesses de fora do Brasil".
“Não estou afirmando [que ONGs são as responsáveis pelas queimadas]. Temos que combater o crime, depois vamos ver quem é o possível responsável pelo crime. Mas, no meu entender, há interesse dessas ONGs, que representam interesses de fora do Brasil" afirmou.
Bolsonaro voltou a abordar o tema das queimadas e das ONGs durante discurso em um congresso do setor de aço, realizado em Brasília. Ele voltou a levantar a suspeita sobre a atuação e os interesses das organizações.
“A questão da queimada na Amazônia, que no meu entender pode ter sido potencializada por ONGs, porque eles perderam grana, qual é a intenção? Trazer problemas para o Brasil”, disse o presidente.
Em uma rede social, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o aumento dos incêndios no país se devem ao tempo seco, ao vento e ao calor.
"Tempo seco, vento e calor fizeram com que os incêndios aumentassem muito em todo o País. Os brigadistas do ICMBIO e IBAMA, equipamentos e aeronaves estão integralmente à disposição dos Estados e já em uso", afirmou Salles, em mensagem replicada posteriormente por Bolsonaro.
Governadores
Bolsonaro ainda disse que há governadores na região Norte do Brasil que não movem "uma palha" para ajudar a combater os incêndios na Amazônia. Segundo ele, há governador que aproveita as queimadas para colocar a "culpa" no governo federal.
O presidente não citou nomes ou estados destes governadores, mas frisou que há governo estadual "que não fez nada, mas pode fazer".
"Tem governador, não quero citar nome, que está conivente com o que está acontecendo e bota a culpa no governo federal. Tem estados aí, que não quero citar, na região Norte, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater incêndio. Está gostando disso daí", disse o presidente.
Fundo Amazônia
Bolsonaro ainda foi questionado se faz falta o recurso que Noruega e Alemanha deixaram de repassar para o Fundo Amazônia. O presidente declarou que não se pode acreditar na "infantilidade" de que os dois países europeus têm "coração grande".
“Com todo respeito a você, me aponte uma árvore plantada com esses recursos bilionários que vêm de fora para dentro aqui? Acha que é um coração muito grande desses países para nos ajudar? Não quer nos ajudar. Todo mundo sabe que não tem amizade entre países, tem interesse", afirmou.
Indicação do filho para embaixada
Na entrevista, Bolsonaro também disse que não recuará em relação à indicação do filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Segundo o presidente, o parlamentar vai definir o momento certo para oficializar a indicação ao Senado.
Bolsonaro destacou que Eduardo está se preparando para a sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Além de ser sabatinado, Eduardo terá de ser aprovado no plenário e ainda precisará renunciar ao mandato de deputado federal.
“O Eduardo vai ser apresentado no Senado. Vai ser. Não tem recuo. É o momento certo. O Eduardo está estudando, está se preparando. [...] Ele que vai sentir o timing. Eu apenas vou usar a caneta Bic", disse o presidente.
Ele declarou que o envio da indicação ao Senado poderá ficar para depois de 7 de setembro, dia em que se comemora a Independência do Brasil. O Senado é responsável por aprovar, em plenário, nomes para chefia de embaixadas.
O presidente deu a declaração um dia depois de admitir a possibilidade de desistir de indicar o filho para comandar a embaixada em Washington.
Na oportunidade, Bolsonaro foi indagado se poderia rever a decisão caso sinta o risco de o nome do filho ser rejeitado pelo senadores. O presidente disse na ocasião que não desejava submeter o filho a um "fracasso".
O governo dos Estados Unidos já deu o aval oficial à indicação de Eduardo para embaixada, contudo, Bolsonaro ainda não enviou a mensagem ao Senado.
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