Acompanhantes de pacientes internados no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, souberam na noite de quinta-feira que, na manhã seguinte, a unidade receberia a visita do prefeito Marcelo Crivella. Não houve anúncio oficial. Mas todos estranharam a limpeza nas escadas do prédio de dez andares, muito usadas já que os elevadores quebram com frequência, o zelo pelos corredores e a chegada de aparelhos de ar-condicionado para a sala amarela da emergência, que atravessou o verão escaldante com ventiladores espalhando vírus e bactérias pelo ambiente. Nesta sexta-feira, pouco tempo antes da chegada da comitiva do prefeito, funcionários pintavam os corredores e o hall dos elevadores, no primeiro andar. A correria só parou poucos minutos antes das 10h48, quando Crivella chegou para inaugurar um tomógrafo na unidade. Foi a deixa para quem já não suportava mais ver seu parente sofrendo e piorando à espera de atendimento.
Um deles foi o marceneiro Rodrigo Lage Ferreira, de 31 anos. A mãe dele está internada no Pedro II há 21 dias. Diabética, Lucy Bandeira Lage, de 65 anos, foi encaminhada para amputar três dedos do pé por causa de uma ferida que não cicatriza. O tempo que passou no calor da sala amarela acabou agravando seu quadro, e a paciente chegou a ir para a sala vermelha e depois para o CTI. Agora, aguarda a cirurgia na enfermaria do sexto andar.
— Eu fui atrás da comitiva e falei com Crivella, que pediu que eu falasse com a secretária dele. Depois disso, limparam o leito da minha mãe, trocaram a roupa de cama e o curativo do pé dela. Marcaram a amputação do pé para este domingo. Mas e o problema dos outros pacientes? — questiona Rodrigo. — Aquela sala amarela continua um inferno.
Segundo ele, várias famílias tentaram falar com o prefeito.
— Uma mulher, que está com um parente na sala vermelha, saiu correndo e gritando, mas Crivella entrou rapidamente no carro. Não sei se ele percebeu. Muitos seguranças evitavam a aproximação — relata Rodrigo.
Uma que conseguiu furar o cerco foi a dona de casa Juciane Gomes, de 36 anos. Ela acompanha a mãe, Iracy Maria Gomes, de 65 anos, que é diabética e está internada desde o dia 7 de março, para cuidar de uma ferida no dedo do pé.
— Desde que minha mãe foi internada, o médico disse que seria necessário amputar. Depois, outro falou que resolveria apenas com raspagem. Foi feito, mas não cicatrizou. Nesta sexta-feira, um médico disse que esse procedimento deveria ter sido feito logo que ela chegou, e eu sei disso, porque esse problema dela pode evoluir muito rapidamente para infecção generalizada. Por isso, fiquei na entrada do hospital e consegui falar com Crivella. Ele pediu que eu falasse com a secretária dele e resolveu. Minha mãe começou a receber um antibiótico mais potente. Não podiam ter feito isso antes, evitando que minha mãe chegasse a esse ponto? — questiona Juciane.
Segundo ela, o sofrimento pelo qual a mãe passou na sala amarela, no calor, piorou o seu estado:
— Hoje, morreu uma senhora que deu entrada lúcida e falando na sala amarela porque quebrou o tornozelo. Ela morreu de infecção hospitalar. As pessoas estão morrendo aos poucos naquela sala por negligência médica — acusa a dona de casa, cuja mãe está agora numa enfermaria.
O pedreiro Carlos Alberto da Conceição, de 62 anos, passou a madrugada acompanhando a mulher, Maria Tereza Rodrigues Rocha, que tentava ser internada na unidade, menos de uma semana depois de ter recebido alta. Com os braços e as pernas muito inchados, a idosa passou 20 horas sentada numa cadeira de rodas de ferro na recepção da emergência até conseguir uma poltrona na sala amarela.
— Minha mulher é diabética e hipertensa. Já amputou um dedo do pé e, na última internação, relizaram uma raspagem profunda no pé dela para tentar cicatrizar uma ferida. Na sexta-feira da semana passada, recebeu alta. Mas logo depois, piorou. Ela chegou ao Pedro II às 8h desta quinta-feira e só conseguiu uma poltrona às 4h da manhã desta sexta. Estava com a fralda toda urinada. É muito difícil — relata Carlos Alberto, que não conseguiu falar com Crivella.
Prefeito diz que vai aumentar repasse para hospital no novo contrato de gestão
Crivella inaugurou nesta sexta-feira o segundo dos dez tomógrafos já comprados pela Secretaria municipal de Saúde para hospitais de emergência. Outros dois já foram encomendados. Na segunda-feira, ele havia entregue um aparelho no Salgado Filho, no Méier, mas o equipamento não está funcionando, por necessitar de calibragem. O prefeito garantiu que o tomógrafo do hospital de Santa Cruz está em pleno funcionamento e irá aumentar a capacidade de exames de 2 mil por mês, com o antigo equipamento, para 5 mil mensais. Ao fim da visita, Crivella afirmou que, no novo processo seletivo para escolha da organização social (OS) que vai passar a gerir o Pedro II, aumentará de R$ 12 milhões para R$ 15 milhões o repasse para o hospital.
O novo equipamento faz uma tomografia em quatro minutos, enquanto que os modelos mais antigos levam cerca de 20 minutos, segundo a prefeitura. Cada tomógrafo custou aos cofres públicos R$ 1,2 milhão. Além do tomógrafo inaugurado nesta sexta-feira, o Hospital Pedro II ganhou recentemente uma sala de trauma modernizada e seis macas hidráulicas. Segundo a prefeitura, “a entrega faz parte do esforço de renovação do parque tecnológico dos hospitais da Prefeitura, que inclui a aquisição de mais de 2 mil equipamentos, adquiridos com os R$ 50,2 milhões da emenda parlamentar da época em que Crivella era senador.
— A importância desse tomógrafo para Santa Cruz é total. O Hospital Pedro II atende não só a moradores da Zona Oeste como também de municípios vizinhos. Com o tomógrafo da Canon vamos atender a mais de 5 mil pessoas por mês. São mais de 150 pacientes por dia, melhorando muito o prognóstico de cura e também o diagnóstico que os médicos vão fazer. Serão mais 10 tomógrafos e, se fizeram a conta, serão mais 50 mil exames por mês. Vamos zerar essa fila — garantiu Crivella em solenidade realizada no hospital.
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