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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Paisagista não quer voltar a morar em apartamento onde foi espancada por lutador durante quatro horas


A paisagista Elaine Perez Caparroz, de 55 anos, não quer mais voltar a morar no apartamento da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde foi espancada por quatro horas pelo estudante de direito e lutador de jiu-jitsu Vinícius Batista Serra, de 27 anos. Ela contou que pretende sair do local para evitar lembranças da tentativa de feminicídio que sofreu, no último dia 16.
Elaine não quer mais voltar a morar no apartamento onde foi espancada. Foto Custodio Coimbra
Elaine não quer mais voltar a morar no apartamento onde foi espancada. Foto Custodio Coimbra Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
—Minha intenção é a de não permanecer morando lá. É um excelente apartamento e tem boa localização, mas vai trazer lembranças ruins pra mim. Fiquei traumatizada com o que aconteceu. Durante os sete dias que fiquei internada, me recuperando dos ferimentos, acordei várias vezes gritando ao lembrar do que havia acontecido no apartamento —disse a paisagista.
A previsão é de que Elaine Caparroz preste depoimento, nesta segunda-feira, às 12h, na 16ª DP (Barra da Tijuca). Ela vai contar para a delegada Adriana Belém, que investiga o caso, detalhes da tentativa de homicídio que sofreu, quando foi agredida pelo lutador com socos, chutes e até com um golpe de mata-leão.
Elaine Peres ficou completamente desfigurada após Vinícius Serra espancá-la por 4 horas seguidas
Elaine Peres ficou completamente desfigurada após Vinícius Serra espancá-la por 4 horas seguidas Foto: Terceiro / Agência O Globo
A agressão ocorreu num encontro no apartamento, que foi marcado pela paisagista e pelo estudante, após os dois conversarem por oito meses em uma rede social. Entre outros ferimentos causados pelas agressões, a paisagista sofreu descolamento de retina, perdeu um dente, levou 60 pontos na boca, e ainda está com marcas provocadas por mordidas nos braços e hematomas nas pernas.
Mulher apanha durante quatro horas
Mulher apanha durante quatro horas Foto: Estagiário / Agência O Globo
Neste domingo, a paisagista antecipou em entrevista ao EXTRA, que acredita ter sido dopada após tomar vinho na sala do apartamento e que não se lembra de como foi levada até o quarto, onde acordou já sendo esmurrada por Vinícius, que luta jiu-jítsu.
— Estava com ele na sala. Brindamos com vinho, e estava tudo ótimo. Em determinado momento da conversa, comecei a perder os sentidos. Era como seu estivesse num plano real do nosso encontro, e esse plano real tivesse se transformado em sonho. De repente, mudou a dimensão da realidade para mim. Eu perdi a noção, era como se eu estivesse delirando. Ainda me lembro dele já, no quarto, sem camisa, com o braço aberto dizendo para eu deitar no braço dele para dormimos juntos. Eu disse “ok” e perdi os sentidos. Quando acordei, já no quarto, estava sendo esmurrada por ele. Acho com 99,9% de certeza que fui dopada por ele. Eu não tinha bebido tanto assim para acontecer isso — disse ela.
Segundo Elaine Caparroz, Vinícius fez questão de preparar a tábua de queijos e de servir o vinho. A garrafa havia sido aberta por ela mesmo, pouco antes. A paisagista também comprara os queijos para serem servidos no encontro, marcado após oito meses de muitas trocas de mensagens numa rede social.
A paisagista disse que o lutador a confundiu ao dar um nome falso na recepção do edifício onde ela mora. Ela acredita que Vinícius tenha se aproximado com alguma má intenção, embora ainda não saiba o que poderia ter motivado tanta brutalidade.
— O interfone tocou e disseram que Felipe queria subir para falar comigo. Respondi que não estava aguardando nenhum Felipe. Aí disseram que era Vinícius Felipe. Pedi para o funcionário do prédio confirmar se era o Vinícius Serra, como ele se identificava nas nossas conversas. Ele perguntou e Vinícius disse que era, sim, o Vinícius Serra. Por isso, o deixei subir. Agora que a gente analisa as atitudes dele, dá para saber que ele tinha intenção de fazer algum ruim comigo — disse Elaine Caparroz.
Para a Polícia Civil, o fato de Vinícius ter fornecido outro nome é um indício que o agressor premeditou o crime. Autuado por tentativa de feminicídio, ele foi transferido na última quarta-feira para hospital psiquiátrico do sistema penal, onde está fazendo exames de sanidade mental.
A paisagista também contou que Vinícius insistiu para encontrá- la no apartamento, após saber que ela morava sozinha. Antes, eles já haviam marcado outros encontros que acabaram sendo cancelados.
— Chegamos a marcar em outros lugares e até de ir à praia juntos, mas acabamos cancelando. Ele insistiu muito para vir. Disse para ele que não recebia homem no apartamento, mas, depois de oito meses de conversa no Instagram, ele ganhou a minha confiança e eu acabei caindo nessa. Durante as quatro horas em que fui espancada, ele só dizia para eu calar a boca, além de me xingar muito. Cheguei a perguntar por que ele estava fazendo aquilo comigo, mas ele só me agredia — contou.
A paisagista disse que os dois se beijaram durante o encontro, mas que não houve relação sexual.
Elaine Caparroz disse que pedirá à polícia para não voltar a encontrar Vinícius, porque está traumatizada. Mas ela afirmou que vai lutar por Justiça até o fim:
— Não quero ter que vê-lo novamente. Neste período em que fiquei internada, tive pesadelos com ele, e, por mais de uma vez, acordei gritando. Vou até ao fim nesta história. Quero Justiça por mim e por todas as mulheres que sofrem agressões no mundo. Não sei por que ele fez isso comigo.
Elaine Caparroz é mãe do lutador de jiu-jítsu Rayron Gracie, fruto de um relacionamento dela com Rayan Gracie. Ela disse que conseguiu resistir por tanto ao espancamento porque lutou com o agressor.
— Não cheguei a apreender jiu-jítsu, mas observei algumas lutas. Acho que isso me ajudou a resistir tanto tempo. Além disto, uma vizinha que é enfermeira foi uma das primeiras pessoas que me deram ajuda. Ela entrou no apartamento, após o Vinícius ser preso. Me colocou sentada e evitou que eu me sufocasse com o meu próprio sangue. Ajudou a salvar a minha vida junto com os médicos que me atenderam depois — disse.
A paisagista calcula que precisará de quatro meses para retomar sua vida profissional. E afirmou que, a partir de agora, terá mais cuidado ao se relacionar nas redes sociais:
— Jamais me encontrarei com uma pessoa com quem me relaciono numa rede social sem que ela tenha sido apresentada por alguém.

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