Dos votos válidos, 96,8% foram favoráveis à parceria. Próximo passo é obter aval de órgãos de defesa da concorrência
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - Os acionistas da Embraer aprovaram em assembleia realizada nesta manhã, em São José dos Campos, a fusão com a americana Boeing para a criação de uma nova empresa na área comercial. A aprovação aconteceu por 96,8%dos votos válidos. A assembleia começou às 10h e terminou as 10h20m. Na abertura da Bolsa, as ações da fabricante brasileira de aviões subiam 1,7%.
Os 96,8% dos votos válidos representam 67% dos acionistas da Embraer que votaram na assembleia ou à distância. A maioria dos acionistas que votaram à distância era de estrangeiros. O quorum mínimo para a realização da assembléia era de 25% dos acionistas.
Compareceram à assembleia pouco mais de 40 pessoas. Durante as discussões representes de acionistas minoritários e dos trabalhadores da empresa se manifestaram contra a fusão, mas foram voto vencido. A assembleia chegou a ser suspensa por liminar na última sexta-feira , mas o Tribunal Regional Federal da 3ª Região revogou a decisão, no fim da noite desta segunda-feira.
A aprovação dos acionistas é o penúltimo passo em direção à criação de uma nova empresa, em parceria com a Boeing. Agora, a fusão terá de passar pelo crivo das autoridades regulatórias brasileiras e americanas para que a NewCo, uma empresa com 80% de capital americano e 20% de participação brasileira, comece, de fato, a operar. Saiba por que a Embraer é tão importante para a Boeing .
Órgãos de defesa da concorrência europeus e outros países também terão que se manifestar sobre a fusão, uma vez que os negócios das duas empresas são globais, segundo o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva.
O governo federal, que possui a chamada golden share, uma ação de classe especial que permite vetar o negócio se houver troca de controle ou ameaça à soberania nacional, já se manifestou a favor.
A Boeing vai pagar US$ 4,2 bilhões pela participação de 80% na parceria com a Embraer. O valor representa acréscimo de 10% em relação à cifra que havia sido acertada em julho do ano passado, quando as duas empresas anunciaram o negócio.
Aprovação até o fim do ano
O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, disse ao GLOBO que o resultado da assembleia foi bastante positivo.
- A votação mostrou que os acionistas entenderam a proposta de valor que o negócio traz - afirmou. - Nossa expectativa é que a transação esteja aprovada mais próximo do fim deste ano.
Após a aprovação da fusão entre Embraer e Boeing, sindicatos de trabalhadores da empresa fizeram uma manifestação em frente a companhia para protestar contra a decisão.
- Na prática, o quorum da assembleia foi muito baixo. Os votos dados para a aprovação representam pouco mais de 26% das ações da empresa. Além disso, como a liminar que suspendeu a assembleia foi cassada de madrugada, não houve tempo para divulgar que a votação aconteceria - disse o advogado do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, Aristeu César Pinto Neto.
Parceria para o KC-390
O presidente da Associação Brasileira de Investidores (Abradin), Aurélio Valporto, foi um dos que questionou a fusão durante a assembleia. Ele disse que a assembleia era 'um teatro para dar aspectos formais a uma fraude'. Valporto afirmou que o departamento jurídico da entidade vai estudar como reverter a decisão.
- É uma derrota para todos os acionistas da Embraer e para o mercado de capitais como um todo - afirmou.
Valporto esperava a manifestação do governo, no sentido de utilizar a golden share para vetar o negócio. Mas isso acabou não acontecendo.
Embraer e Boeing também chegaram a um acordo sobre os termos de uma segunda joint venture para promover e desenvolver novos mercados para o avião multimissão KC-390. De acordo com a parceria proposta, a Embraer deterá 51% de participação na joint venture e a Boeing, os 49% restantes. O negócio também precisa foi aprovado pelos acionistas.
A liminar que havia suspendido a assembleia havia sido pedida pelo sindicato de metalúrgicos de São José dos Campos, Araraquara e Botucatu, além da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos.
'Transbordamento de poder'
Segundo os sindicatos, o Conselho de Administração, que deu o aval para o negócio em janeiro, não teria poderes para isso, sendo necessária a anuência dos acionistas. Portanto, segundo interpretação dos sindicatos, estaria havendo um "transbordamento de poder".
Além disso, assim como os acionistas minoritários, os sindicatos avaliam que a operação não pode ser entendida como uma fusão, mas sim uma compra do segmento de aviação comercial da Embraer por parte da Boeing, o que esbarraria em restrições legais para a entrada de capital estrangeiro neste segmento de negócios no país.
Os sindicalistas afirmam que como se trata de compra, o governo deveria utilizar o poder de veto, através da golden share, já que há comprometimento do interesse nacional. Mas isso não aconteceu.
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