Flávia Moura quer que Exército ajude nas buscas, que foram suspensas pela FAB após 14 dias.
“São 15 dias de angústia silenciosa”, diz Flávia Moura, de 29 anos, filha de Jeziel Barbosa de Moura, de 61 anos, piloto do avião monomotor que desapareceu com indígenas na Floresta Amazônica no dia 2 de dezembro. Após 14 dias de sobrevoo, na segunda-feira (17), a Força Aérea Brasileira (FAB) suspendeu as buscas pela aeronave e por vítimas.
Flávia é a mais nova de três filhos. O piloto mora em Laranjal do Jari, a 265 quilômetros de Macapá, e é entre a região Sul do Amapá e o Norte do Pará que Moura tem quase 40 anos de experiência na aviação.
A aeronave desapareceu entre a aldeia Mataware, no Parque do Tumucumaque, em terras paraenses, e Laranjal do Jari, com oito pessoas a bordo, incluindo o piloto Jeziel Moura.
“Meu pai conhece a região, já voa há bastante tempo, então a gente sabe que ele deu o jeito dele de pousar em algum lugar, só que na selva é difícil encontrar. A gente sabe a dificuldade no resgate aéreo, mas queremos encontrá-lo, por isso a gente reuniu alguns garimpeiros e índios amigos do meu pai, que estão na mata. Só que a gente quer ajuda do Exército que tem preparo pra isso”, comentou Flávia.
Avião monomotor PT-RDZ transportava sete índios Tiriyó, além do piloto, e desapareceu na Amazônia no dia 2 de dezembro — Foto: Flávia Moura/Arquivo Pessoal
A família detalhou que conta agora somente com uma busca por terra, realizada por um grupo voluntário de oito garimpeiros e 10 índios que conhecem a região, que é de mata fechada. Flávia ressalta que tem esperança de que o Exército siga com buscas na área, mas por terra, por conhecer a região.
“Eles [FAB] passam pra gente que a meteorologia não está ajudando e que não conseguem fazer buscas pelo sensor para encontrar o avião. Fica difícil, estamos em desespero, não sabemos o que fazer. A gente quer ajuda do Exército com homens dentro da mata porque eles têm preparo e conhecem a região. É um avião pequeno, como uma cápsula no meio da selva. Então se entrou, a mata escondeu. Agora é questão de ir por terra”, pediu Flávia.
À Rede Amazônica, o Exército informou que também cancelou as buscas, argumentando não ter suporte de aeronaves para cobrir uma área tão extensa.
“Tenho certeza que meu pai está vivo, só que o tempo está passando. São 15 dias de angústia, sem a gente conseguir raciocinar direito em casa. Não sei se meu pai está comendo, se está machucado”, disse.
“Meu pai todo dia está comigo. Eu estava esperando ele para vir almoçar, e ele simplesmente não voltou. É uma espera que parece que nunca acaba. Eu só quero ele de volta. A gente só não pode desistir”, concluiu a filha.
Desaparecimento
O avião monomotor, de prefixo PT-RDZ, transportava sete pessoas de uma família de índios, além do piloto. A viagem, que partiu no domingo (2 de dezembro) e fez a última comunicação às 12h06, foi contratada pelos indígenas para fazer o trajeto entre a aldeia Matawaré e Laranjal do Jari.
A região é de difícil acesso e o transporte aéreo é a única forma de se chegar às aldeias. Em função da geografia da região, a maior parte do trajeto é feito em território paraense, pela cidade de Almeirim.
A bordo estava uma família de índios Tiriyó: professor, esposa e três filhos, uma aposentada e o seu genro; além do piloto, Jeziel Barbosa de Moura.
Buscas eram feitas por avião e helicóptero da Força Aérea Brasileira — Foto: Rede Amazônica/Reprodução
De acordo com Kutanan Waiana, da coordenação executiva da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará, a contratação de pequenos aviões para transporte entre aldeias é comum na região, com viagens que custam entre R$ 3 mil e R$ 10 mil.
No dia 4 de dezembro, a Fundação Nacional do Índio (Funai) caracterizou como “clandestino” o voo e informou que a aeronave transportava pelo menos sete indígenas. A falta de pistas autorizadas na região e a não comunicação da viagem, segundo a Funai, apontam a irregularidade. Flávia assegurou que o pai está com as documentações regulares para pilotar.
Encerra buscas
FAB anunciou suspensão após 14 dias de buscas sobrevoando a Floresta Amazônica — Foto: Força Aérea Brasileira/Divulgação
Em nota, a FAB informou na tarde de segunda-feira (17) que suspendeu as buscas pelo avião. Foram realizadas 128 horas de voo com as aeronaves SC-105 Amazonas SAR, C-130 Hércules e o helicóptero H-60 Black Hawk. A busca agora está limitada a um grupo de índios e garimpeiros, por terra.
Ainda segundo a FAB, as equipes sobrevoaram uma área de 12.550 quilômetros quadrados, o equivalente a cerca de 12 mil campos de futebol. A instituição afirmou que as aeronaves cumpriram padrões internacionais de busca, mas a mata fechada e região montanhosa são fatores que dificultaram a observação pelas equipes.
Um total de 60 militares estiveram envolvidos nas buscas, que foi coordenada pelo Centro de Coordenação de Busca e Salvamento de Manaus (Salvaero). A unidade operacional do Quarto Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta IV) é responsável pela coordenação das missões de busca a aeronaves e embarcações na região Norte do país.
Local de sumiço de avião na Floresta Amazônica — Foto: Arte/G1
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