Marjorie Estiano encerra o ano de 2018 recebendo críticas laudatórias do público por sua atuação em "Sob pressão", série da Globo que ganhará uma terceira temporada no ano que vem. A atriz, que interpreta a médica Carolina, conta que é complicado se distanciar da personagem ao fim das gravações:
- A realidade de 'Sob pressão' é a da grande maioria dos brasileiros. Eu vivi essa experiência filmando a série durante todo o ano de 2018 e não aguentaria muito mais do que isso sem intervalo. São sequências bastante pesadas. Acho que agora entendo melhor o distanciamento que alguns médicos desenvolvem em relação aos pacientes. Os profissionais que nós interpretamos são completamente envolvidos com eles. Avaliando o ano, acredito que não fui bem-sucedida nesse desprendimento das cenas. Sonho direto com o hospital, com as emergências.
Na atração, a atriz aparece frequentemente sem maquiagem, algo pouco comum na TV. Marjorie diz que isso não afeta sua vaidade:
- Acho importante se disponibilizar intelectual, física e emocionalmente para um personagem. Se oferecer abertamente não é fácil, trata-se de um exercício. Não usar maquiagem especificamente não afeta a minha vaidade, eu não tenho o hábito de usar. Pessoalmente, não me causa nada. Acho, inclusive, que é uma oportunidade de diversificar e ampliar o conceito sobre estética apresentado pela televisão. Em relação à vaidade de uma maneira mais abrangente, acho bom ter. Ela pode atrapalhar se desequilibrar a sua relação com o fim, com o propósito.
A Carolina de "Sob pressão" é o 16º trabalho de Marjorie como atriz na emissora - entre papéis fixos e participações - desde que despontou como a Natasha de "Malhação", em 2004. No teatro, sua primeira peça, "Clarice", entrou em cartaz em 1999. Ela afirma que o início da carreira foi o momento mais difícil até aqui:
- Era quando ainda não me sentia amparada técnica e psicologicamente para exercer a profissão, e as escolhas pareciam ser definitivas. Vivia uma bagunça de desejos e limitações, uma intensidade tresloucada. O prazer pelo ofício era raro, embora eu tivesse clareza de que pertencia àquele universo. O começo foi o mais difícil pela inabilidade em lidar comigo mesma. Desde então, as dificuldades só mudaram de nome. Elas continuam existindo, e vou sempre me deparar com algo novo que me desloque, assim espero. Mas hoje tenho a impressão de que estou mais equilibrada. Ser um veículo para algo que acontece dentro de outra pessoa é gratificante.
Marjorie, inclusive, já enfrentou alguns momentos de crise em relação ao seu ofício:
- Questionei mais de um vez se de fato aceitava o ônus e o bônus desse contrato que assinei comigo mesma. E acho que ainda vou questionar outras vezes. Por ora, combinei comigo de fazer contratos de prazo curto e ir reavaliando a renovação desses votos com a profissão. Não consigo me mover se não encontrar sentido e me seduz descobrir lugares novos para explorar. Me ouvir é importante para me manter presente, inteira e vigorosa.
Conhecida por sua discrição na vida pessoal, Marjorie acredita que a profissão de ator se popularizou e, ao mesmo tempo, "o desejo pela fama ganhou destaque".
- E as redes sociais muitas vezes saciam um pouco esse desejo de ser notado - analisa ela, que procura manter uma relação saudável com a internet, longe de conflitos. - Embora funcione para muitas pessoas, eu não me utilizo das redes para discutir. Posso expor a minha opinião, mas a relação custo-benefício para discutir não compensa. Se já podemos não ser compreendidos de corpo presente, falando, ouvindo e vendo, imagina escrevendo.
Apesar dessa postura, a atriz não abriu mão de se posicionar no Instagram contra Jair Bolsonaro, que se elegeu presidente, e acabou sofrendo ataques:
- Não temia ser agredida porque já sabia que seria. A personalidade da 'oposição' era muito clara. Mas nem por isso deixaria de me colocar. Porém, faço mais no meu dia a dia do que nas redes. Me sinto mais eficiente dessa forma e condiz com minha personalidade.
A atriz acredita que o futuro do país é uma incógnita, mas se diz esperançosa:
- Por pior que seja o que está se revelando, é mais eficaz encarar a realidade, e eu tendo a acreditar que isso tudo vem construindo um brasileiro mais participativo. Não tenho a ilusão de mudanças drásticas e repentinas. Transformação é construção. Mas, independentemente de qualquer coisa, não existe quem possa conter esse movimento mundial de sobrevivência. A mulher já é uma mulher diferente, o negro é diferente, nossa sexualidade e nossa identidade estão mais esclarecidas etc. Isso não será contido, encontrando maior ou menor dificuldade.
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