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terça-feira, 15 de maio de 2018

A VEZ DAS MINICASAS

Em um mundo cada vez mais sem fronteiras em que empregos e moradia são transitórios, ganha força a valorização do desapego como estilo de vida. Muito em breve, o mínimo pode ser tudo de que você precisa em uma casa


Em 2050 seremos 9.6 bilhões de habitantes no planeta Terra. Foi isso o que previu um relatório feito pela ONU em 2013. O maior crescimento populacional deve acontecer nos países desenvolvidos. E quando o assunto é o espaço em que vivemos, cenários como esse apontam para mudanças importantes. Ainda que exista a perspectiva de um adensamento verticalizado nos grandes centros, a probabilidade de que isso acarrete em metragens menores é uma hipótese a se considerar (apartamentos compactos já são quase metade dos lançamentos em São Paulo), tanto pelo fato de os espaços disponíveis serem escassos e caros, quanto pelo anseio de toda uma geração por uma vida com mais mobilidade e praticidade. Entra em cena como solução urbana o que parecia ser um projeto distante: minicasas em muitos formatos possíveis.

Essa solução de design urbano já começa a fazer parte da paisagem de grandes metrópoles mundo afora, com projetos distintos de construção compacta que se apresentam como uma solução para jovens e novas famílias fugirem dos assustadores financiamentos de 30 anos — isso não quer dizer que ter uma minicasa seja barato, mas a estrutura simplificada em muitos sentidos torna esse anseio pela casa própria uma possibilidade concreta, mesmo que isso envolva uma moradia construída sobre rodas (que libera o comprador de pagar por um pedaço de terra). O movimento tem muitos adeptos nos Estados Unidos, uma cultura já bem familiarizada com a ideia de viver em trailers ou motorhomes. “É um movimento que vai ganhar força sobretudo nas grandes capitais, onde o custo de vida é altíssimo”, conta a semioticista Janiene Santos, que mora há três anos no Missouri, EUA.
A metragem em si, por mais desafiador que pareça morar em 18 m², não é a grande surpresa do movimento de valorização das minicasas. Muita gente mundo afora habita espaços minúsculos em diferentes contextos, por necessidade ou por opção. Os projetos recentes revelam o papel imprescindível e inovador do design ao pensarmos a otimização do espaço em que vivemos.

Vida descomplicada
A simplicidade se tornou um objeto de desejo dos tempos atuais. A escassez de tempo ressalta a necessidade de praticidade. Os empregos são transitórios, as famílias estão cada vez menores, o trabalho pode ser virtual. Assim, as fronteiras no mundo parecem mais porosas, permitem o deslocamento das pessoas (de imóvel, cidade ou país) com mais facilidade do que em outros tempos.
Em uma palestra realizada em 2011, o designer de interiores canadense Graham Hill já anunciava o cenário que daria origem à sua empresa de construção especializada em compactos, a LifeEdited, que deu consultoria para a brasileira Vitacon lançar microapês em São Paulo. Para Graham, tudo começou com uma pergunta: “Ter menos coisas em menos espaço pode trazer mais felicidade?”. Com isso em mente, ele embarcou em um projeto que envolveu o crowdsource de seu apartamento em Nova York, EUA, em busca de soluções de design para metragens mínimas. “Com o bom uso do design e da tecnologia, podemos criar soluções que nos ajudem a poupar dinheiro, diminuir nosso impacto no meio ambiente e proporcionar uma vida simples que aumente nosso bem-estar”, afirma.

Essa mesma mudança de mentalidade impulsionou o casal Robson Lunardi e Isabel Albornoz a viajar pelos Estados Unidos para pesquisar os muitos projetos possíveis de minicasas. Queriam construir a deles (sobre rodas, que fica pronta este ano e terá cerca de 35 m²), depois de uma crise de Burnout que os motivou a rever seu projeto de vida. “Em uma minicasa cada item tem seu lugar. Em poucos minutos organizo tudo. Sobra tempo para descansar, passear, para a gente fazer o que gosta”, diz Isabel.
No Brasil, os projetos em andamento são poucos. De olho no futuro, o arquiteto Danilo Corbas investe no formato contêiner com a sua Container Box. As Tiny Boxes criadas por ele são feitas com duas opções de metragem: as de 15 m² saem a partir de R$ 70 mil e as de 30 m², a partir de R$ 90 mil, dependendo dos acessórios escolhidos. A estrutura de contêiner também foi a escolha da Amazon, que começou a comercializar minicasas pela internet em outubro.

Espaços pequenos exigem bons projetos e, claro, novas rotinas. Ter algo customizado para nossas necessidades ainda é caro, mas pode gerar economia no futuro. “Vem como consequência de menos gastos com a casa, e acredito que essa será a principal motivação, além do estilo charmoso e criativo, bem ao encontro do ‘jeitinho brasileiro’, que nos brinda com soluções inteligentes”, finaliza Janiene Santos.

Mobilidade. A americana Escape Homes foca seu trabalho nas casas sobre rodas. Aqui, o modelo Traveler XL, de cerca de 30 m² (Foto: Escape RV / Steve Niedorf / Divulgação)

Conforto. O painel de vidro no interior do XL permite uma vista privilegiada. O modelo pode vir equipado com lareira e cama tamanho queen (Foto: Escape RV / Steve Niedorf / Divulgação)

Protótipo. Parceria da inglesa Lowe Guardians com o Studio Bark, o SHED Project foi originalmente pensado para ocupar espaços ociosos, como imóveis em reforma (Foto: Divulgação)

Luminosidade. As muitas janelas garantem boa entrada de luz no espaço (Foto: Divulgação)

Sem intermediário. Localizada na Califórnia, esta casa foi projetada e construída pelo próprio dono, o designer Alek Lisefski, que mora com a namorada e um cachorro (Foto: Divulgação)

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