Em Nova York, juiz admite que há riscos para a Lava-Jato, mas diz acreditar no apoio da sociedade
NOVA YORK — O juiz Sérgio Moro defendeu, nesta sexta-feira, em um evento em Nova York, a apuração dos casos de corrupção da Lava-Jato. Sem citar diretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que em uma entrevista na última quinta, ao jornal "Folha de S. Paulo", disse ter dúvidas se o juiz não agiu de forma deliberada contra o PT e a mando de interesses americanos -, Moro afirmou que as investigações estão revelando fatos inconvenientes de muitos políticos.
— As pessoas têm ilusões de seus ídolos, mas é hora de ver a verdade — disse ele na abertura de um evento sobre corrupção na América Latina promovido pelo American Society/Council of the Americas.
— Ninguém está sendo investigado ou julgado por causa de opinião política, mas por lavagem de dinheiro, propina, atos criminosos.
Questionado por jornalistas, Moro se recusou a comentar a entrevista de Lula:
— Não respondo a entrevista de gente processada — disse.
Ele também preferiu não falar sobre seu auxílio-moradia (que recebe apesar de ser proprietário de um apartamento em Curitiba) e também evitou opinar sobre a greve que sua categoria está planejando para 15 de março para manter o benefício.
Ele voltou a defender o fim do foro privilegiado e admitiu que o esforço contra corrupção corre riscos de retrocesso no Brasil, mas diz que não pode prever o futuro e que a sociedade segue apoiando as investigações. Ele afirmou que o Supremo Tribunal Federal (STF) não deve acabar com a prisão após o julgamento em segunda instância, por acreditar que isso é uma forma de reduzir a impunidade.
— Como diz o ministro (Luís Roberto) Barroso, seria uma tragédia. Mas não acredito que o Supremo vá mudar o seu entendimento — disse.
Ele afirmou que a parte da Lava-Jato sobre a corrupção na Petrobras está praticamente encerrada, mas que há novos desdobramentos em todo o país. Questionado se as investigações da Lava-Jato prejudicaram a economia no Brasil, Moro disse acreditar que foram outros fatores que levaram o país à recessão e afirmou que, no longo prazo, o combate à corrupção melhora o ambiente de negócios no país:
— Veja o que ocorreu com os Estados Unidos depois do Watergate, o país ficou melhor por respeitar as leis — disse.
Moro ainda disse que é difícil avaliar o impacto de longo prazo destas grandes ações contra-corrupção. Questionado sobre como vê a situação da Itália hoje, décadas após a "Operação Mãos Limpas", o juiz de Curitiba disse acreditar em avanços, apesar da percepção de que ainda há muita corrupção no país europeu.
— Pode ser que a situação da Itália estivesse muito pior sem a Operação Mãos Limpas.
Enquanto Moro discursava, grupos ligados aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff protestaram do lado de fora da instituição. O evento continua na manhã desta sexta-feira e terá a participação do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
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