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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Caixa dois pagou até R$ 10 milhões da campanha de reeleição de Lula, diz Mônica Moura


Relacionamento com a Odebrecht começou com pagamentos em 2006, segundo publicitária


SÃO PAULO — A publicitária Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, afirmou em depoimento ao juiz Sergio Moro que mais da metade do valor cobrado pelo casal para a campanha de reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 foi pago por meio de caixa 2.


Embora tenha ressaltado que não se lembrava dos valores exatos, Mônica disse que a campanha custou cerca de R$ 18 milhões, e apenas R$ 8 milhões foram pagos pelo caixa oficial. Segundo ela, a decisão de como fazer os pagamentos por caixa 2 foi do PT e que João Santana chegou a conversar com o ex-ministro Antonio Palocci sobre os riscos, já que a imagem do ex-presidente estava abalada pelo mensalão.

— A decisão era absolutamente deles (PT), de receber por caixa 2. Para mim, (pagamento oficial) era menos risco, mais tranquilo, não tinha que carregar mala de dinheiro para lugar nenhum — afirmou Mônica, que depôs na ação em que o ex-presidente Lula é acusado por ter recebido vantagens indevidas da Odebrecht com reformas no sítio de Atibaia (SP).


Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) referentes à prestação de contas da campanha de Lula em 2006 mostram que a Pólis Propaganda e Marketing Ltda, empresa do casal de marqueteiros, recebeu R$ 13,75 milhões, por serviços como "produção de programas de rádio, televisão ou vídeo", "publicidade por materiais impressos", "criação e inclusão de páginas na internet", "publicidade por placas, estandartes e faixas" e "produção de jingles, vinhetas e slogans".



A publicitária voltou a confirmar que recebeu pagamentos da Odebrecht no exterior e disse que seu primeiro contato com a empreiteira ocorreu em 2006. Ela e o marido firmaram acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava-Jato.


— Nesta eleição (2006), já recebemos parte oficial e parte caixa dois. E a Odebrecht pagou o caixa 2. Foi o primeiro ano que tivemos relação com a Odebrecht, que pagou parte no Brasil e parte no exterior — disse Mônica Moura.

Em agosto de 2005, abalado pelo escândalo do mensalão, o presidente Lula fez um pronunciamento à nação e pediu desculpa aos brasileiros. Lula se disse traído e indignado com a crise política. "Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis. Indignado pelas revelações que chocam o país, e sobre as quais eu não tinha qualquer conhecimento", discursou, na época, ao falar sobre caixa 2, que havia sido revelado nas investigações do mensalão.




Durante o depoimento, a defesa do ex-presidente chegou a intervir e lembrar que Lula não foi indiciado na ação do mensalão. O juiz Sergio Moro Moro rebateu, dizendo que estava falando do escândalo do mensalão, não do processo judicial.

Mônica Moura ressaltou que todos os partidos praticam caixa 2, mas admitiu que, a partir de 2006, trabalhou apenas nas várias campanhas do PT, como a de Marta Suplicy em 2008, para a prefeitura de São Paulo, e a da ex-presidente Dilma Rousseff em 2010.
Segundo a publicitária, o negociador dos contratos era o ex-ministro Antonio Palocci, mas a pessoa com quem ela tinha mais contato era com João Vaccari, tesoureiro do PT.

MARQUETEIRO COBRAVA DÍVIDAS DE LULA

Após a fala de Mônica Moura foi a vez do marqueteiro e também delator João Santana. Ele contou que quando havia dívidas de campanha de caixa 2 com o PT, chegou a cobrar de Lula os pagamentos. Segundo o marqueteiro, nessas conversas ficava "implícito" que o petista sabia tratar-se de pagamentos não contabilizados. 



— Quando o Palocci (ex-ministro da Fazenda) falhava, eu tratava com o ex-presidente. Falei duas ou três vezes, num intervalo do primeiro para o segundo turno (da campanha de 2006). Mas diretamente não. Eu deduzia que ele (Lula) sabia - disse Santana. — Eu sabia por duas razões. Primeiro porque eu não conheci nenhum candidato que não soubesse detalhes da administração financeira de sua campanha. Segundo porque os pagamentos oficiais sempre tiveram margem pequena de atraso. Quando se tratava de atrasos e de valores que ficavam para depois da campanha estava implícito que era caixa 2.





Santana disse desconhecer que as repasses de caixa 2 ao PT por meio da empreiteira fossem feitos como contrapartida por contratos da empresa com a Petrobras, conforme apontam as investigações da Operação Lava-Jato. Ele também negou ter qualquer conhecimento sobre qualquer relação de Lula com o sítio de Atibaia. No depoimento, o assunto do sítio de Atibaia, que ensejo o processo contra o petista, se resumiu a menos de dois minutos da fala do marqueteiro.

Assim como fez em sua delação, Santana reafirmou que na campanha à reeleição de Lula pediu que as doações fossem todas feitas de maneira oficial. Contudo, após o decorrer do pleito o ex-ministro Palocci disse que o partido não teria condições de honrar os pagamentos contabilizados, mas ofereceu uma forma "segura" e extraoficial por meio da empreiteira Odebrecht.

— Quando negociei a campanha pedi ao Palocci que não tivesse caixa 2. Ele concordou. Dois meses depois, ele (Palocci) senta comigo e diz que é impossível cumprir oficialmente. Mas disse que havia que tinha uma forma segura e perguntou se eu tinha conta no exterior e afirmou que a Odebrecht faria o pagamento - disse Santana.




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