'Papisa da elegância brasileira' faleceu em casa, no Rio, na tarde de domingo
Morreu na tarde de domingo, aos 88 anos, a socialite Carmen Mayrink Veiga. Um dos maiores símbolos da elegância no país, Carmen faleceu em casa, no Rio de Janeiro. A filha Antônia Frering lamentou a perda com uma publicação em suas redes sociais, que mostra apenas uma imagem antiga da mãe com um coração partido na legenda.
Natural de Pirajuí, interior de São Paulo, Carmen Therezinha Solbiati nasceu em 24 de abril de 1929, em uma tradicional família do Sudeste brasileiro. Filha de Maria de Lourdes de Lacerda Guimarães e Enéas Solbiati, era neta do Barão de Arari e sobrinha-neta do Barão de Araras, pelo lado materno. Seu pai era um rico financista de São Paulo, que foi cônsul honorário do Reino da Itália.
Ela já era frequentadora dos desfiles de alta costura francesa e famosa no mundo da moda quando conheceu o empresário Tony Mayrink Veiga, com quem se casou em 1956. Eles ficaram juntos por 60 anos, até a morte de Tony, em junho de 2016. O casal teve dois filhos, Antenor e Tereza Antônia, e cinco netos.
Tony e Carmen Mayrink Veiga formavam um dos casais mais elegantes da alta roda, chegando a ser considerados por Truman Capote, Diana Vreeland e Anna Wintour, na “Vogue” americana, “o casal mais chique da América do Sul”. Frequentadores do jet set internacional, participavam desde caçadas na África a festas com multimilionários de diversos países, além de receber personalidades globais em seu apartamento de mil metros quadros da Avenida Rui Barbosa, com vista deslumbrante para o Pão de Açúcar, para jantares regados a champanhe.
Carmen foi retratada por artistas como Cândido Portinari, Andy Warhol e Di Cavalcanti, além de ter sido fotografada por nomes como Francesco Scavullo, Richard Avedon e Mario Testino. O rosto da brasileira também aparece entre as caricaturas de Madonna, Demi Moore e outras celebridades internacionais no clipe da música "Imitation of life", da banda R.E.M. Pouco antes do lançamento do vídeo, ela havia chamado a atenção ao, depois de comparecer a uma cerimônia do Oscar, levar mais de 20 minutos para sair de uma limousine devido ao tamanho do vestido que usava para o jantar oferecido por Demi Moore. Ela chegou ao evento ao lado de Madonna.
Presença constante nas listas das mulheres mais elegantes do Brasil, Carmen entrou para a seleta lista das pessoas mais bem vestidas do mundo da revista americana "Vanity Fair" em 1981. Também é a única brasileira citada na biografia oficial de Yves Saint Laurent - era uma das maiores colecionadoras de peças do estilista no mundo - e listada nos registros de clientes da alta costura de Paris desde jovem. Possuia mais de 400 vestidos de alta costura, uma coleção considerada rara pelos especialistas em arte e alta moda. Em 2003, 67 de seus vestidos foram expostos em uma mostra na Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa.
Em 1997, escreveu o livro "ABC de Carmen", sobre etiqueta e estilo pessoal, e, em seguida, foi convidada para atualizar e comentar a versão para a América do Sul do "Livro Completo de Etiqueta de Amy Vanderbilt"
Carmen sofria de paraparesia espástica tropical, condição que limitava seus movimentos. Em decorrência da doença, se locomovia em uma cadeira de rodas há quatro anos. Desde então, tornou-se uma ativista pela causa dos cadeirantes, conseguindo que rampas de acesso e outras facilidades indispensáveis para pessoas com deficiência e problemas de mobilidade fossem instaladas em hotéis de luxo, como o Copacabana Palace, restaurantes e edifícios históricos, como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que ganhou um elevador panorâmico específico para cadeirantes inaugurado por Carmen.
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