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sábado, 25 de novembro de 2017

PF converte em preventiva prisão dos suspeitos de golpe milionário

Análise documental e entendimento de que a organização criminosa continua ativa culminou no mandado cumprido neste sábado (25).


A Polícia Federal converteu em preventiva a prisão de três dos quatro envolvidos na operação Ouro de Ofir, deflagrada para apurar organização criminosa que estaria enganando milhares de investidores em Campo Grande e diversas cidades brasileiras, com promessas de retorno milionário em troca de aportes antecipados de recursos.
A investigação aponta que os envolvidos continuam a utilizar as redes sociais para manter contato com as vítimas e, desta forma, obtendo mais recursos de forma ilícita. Nesta fase, o inquérito teve acesso a mensagens e vídeos que orientam as pessoas a não procurarem a Polícia Federal, sendo que os suspeitos podem responder por mais este crime.
Na última terça-feira (21), quando a PF fez buscas, houve a apreensão de armas de fogo na residência de dois alvos resultando na prisão em flagrante. Na sexta-feira (24), eles tiveram a liverdade provisória concedia pelo crime de porte de arma. A investigação, no entanto, não tinha como foco este crime isolado.
Com a análise documental e o entendimento de que a organização criminosa continua ativa, a prisão preventiva foi decretada. A investigação também entendeu que a liberdade dos envolvidos prejudicaria a instrução processual e a própria ordem pública, dado o número de vítimas. Um quarto homem está foragido em Goiás. Sobre ele cabe um mandado de prisão temporária por envolvimento com o esquema.
Dinheiro apreendido em um dos endereços da operação Ofir, em Campo Grande, MS (Foto: PF/Divulgação)Dinheiro apreendido em um dos endereços da operação Ofir, em Campo Grande, MS (Foto: PF/Divulgação)
Dinheiro apreendido em um dos endereços da operação Ofir, em Campo Grande, MS (Foto: PF/Divulgação)

Formulário

Ao menos 25 mil pessoas, conforme aponta a PF, teriam feito algum investimento no golpe. Com a intenção de atender às vítimas do golpe da 'mina de ouro', a investigação criou um formulário. A pessoa deve preenchê-lo, reconhecer firma e entregar ou encaminhar para a Polícia Federal em Campo Grande.
“O objetivo da iniciativa é que as pessoas tenham facilidade em denunciar, expondo a situação de cada investidor para enriquecer a colheita de indícios contra a organização criminosa”, aponta a unidade em comunicado oficial. Na internet, as vítimas devem baixar o formulário. Se residirem em Campo Grande, devem entregar o termo na Superintendência Regional Polícia Federal na cidade, caso contrário devem remetê-lo pelos Correios ao órgão, no endereço: rua Fernando Luiz Fernandes, 322, Vila Sobrinho, Campo Grande, MS, CEP; 79110-503, aos cuidados do delegado que coordenou a operação, Guilherme Farias.

Os golpes

“Na história que eles contavam, essa mina teria sido explorada na época do Império. O ouro teria sido vendido para a Europa e nos Estados Unidos. Uma família de Campo Grande, que seria a dona da mina, teria após mais de 60 anos de tramitação de um processo em uma suposta corte internacional, ganhado a ação, que em valores corrigidos, seria, conforma a quadrilha de US$ 2,7 trilhões. Um valor fora da realidade. Desse valor, a família ficaria com 60% e 40%, conforme determinado pela suposta corte teria de ser doado. Os golpistas prometiam as vítimas um retorno milionário, desde que elas ajudassem a pagar os custos para trazer esse dinheiro. O investimento mínimo era de R$ 1 mil e o retorno prometido seria de pelo menos R$ 1 milhão. Assim, teve gente que investiu R$ 1 mil, teve que gente que investiu R$ 5 mil, outros R$ 30 mil”, explica o delegado Cleo Mazzotti, responsável pelas investigações.
Outro golpe, de acordo com delegado, prometia quantias também milionárias com a liberação de uma antiga Letra do Tesouro Nacional (LTN), mas também mediante pagamento prévio. O delegado acredita que há pelo menos dez anos os suspeitos vinham aplicando esse tipo de golpe, mas que nos últimos dois a metodologia foi aprimorada.
Ele explica que o grupo tinha quatro divisões: os líderes, chamados de paymasters; os escriturários, que ficavam encarregados de recrutares os corretores, e estes, que por sua vez procuravam as vítimas, em redes sociais, grupos de wattsapp e até em em igrejas. “São centenas de corretores em todo o país. Nos acreditamos que alguns sabiam que era um golpe, outros não. Isso vamos verificar em uma outra fase da investigação”.
De acordo com Mazzotti, nesta etapa da investigação, que já dura pelo menos seis meses, o trabalho foi centrado nos líderes da quadrilha, os três paymasters, que foram presos com mandados de prisão temporária em Campo Grande. Na ação, deflagrada nesta terça-feira foram apreendidos mais de R$ 1 milhão em dinheiro, carros de luxo, 200 quilos de pedras preciosas e armas de fogo.

Fachada

O delegado disse que para dar uma fachada de credibilidade ao golpe a quadrilha utilizava vários artifícios. Um dos membros, por exemplo, apresentava uma carteira de juiz federal arbitral e o outro se identificava como cônsul de Guiné Bissau. “Não existe essa função de juiz federal arbitral. O juiz arbitral é função particular, que atua em conciliações. E o membro do grupo se apresentava somente como juiz federal. A mesma coisa é com o que se apresentava como cônsul, que é uma função honorária. Eles usavam isso para dar status, dar mais credibilidade ao golpe”.
Outra ferramenta utilizada pela quadrilha, de acordo com ele, era o da falsificação de documentos públicos, de instituições como o Banco Central e o Banco do Brasil, para aumentar a confiabilidade das vítimas. “Chegavam a ponto de publicarem fotos em redes sociais, na entrada do Banco Central dizendo que estavam saindo do local, após reuniões para tratarem de assuntos relativos a liberação dos recursos para pagarem os investidores. Só que nunca pagavam. Quando chegava a data combinada sempre ocorrida um problema. Na investigação não detectamos nenhuma vítima que tenha recebido nada do esquema”, diz.
Além disso criavam documentos com nomes complicados, como contrato particular de participação ad-exitum, que eram, inclusive, registrados em cartórios. “Os cartórios não tinham nenhuma participação. Tanto que em todos os documentos, publicavam que não tinham nenhuma responsabilidade sobre o que estava sendo assinado”, comenta Mazzotti.
“Entre 2012 e 2013, eles declararam valores muito baixos e nos últimos anos, esse valor foram aumento, com declarações de direitos e valores expressivos, que passavam de milhões de reais”, explica, completando que essas declarações também era usadas pelo grupo para mostrar que havia lastro para os ganhos financeiros que elas ofereciam com os golpes.
O delegado adjunto da Receita Federal em Mato Grosso do Sul, Henry Tamashiro de Oliveira, explicou nesta manhã que técnicos do órgão fizeram um mapeamento das declarações de Imposto de Renda dos suspeitos de comandarem o grupo e notaram que nos últimos anos houve um crescimento anormal dos valores declarados.
“Entre 2012 e 2013, eles declararam valores muito baixos e nos últimos anos, esse valor foram aumento, com declarações de direitos e valores expressivos, que passavam de milhões de reais”, explica, completando que essas declarações também era usadas pelo grupo para mostrar que havia lastro para os ganhos financeiros que elas ofereciam com os golpes.
Inicialmente, Mazzotti explica que os suspeitos presos vão responder por crimes contra o mercado financeiro nacional e por organização criminosa, mas que dependendo da atuação de cada um deles no grupo poderão ser indiciados também por estelionato, falsificação de documento público e falsidade ideológica.

Nome da operação

Segundo a PF, Ouro de Ofir é baseado em uma cidade mitológica da qual seria proveniente um ouro de maior qualidade e beleza. Tal cidade nunca foi localizada e nem o metal precioso dela oriundo.

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