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sábado, 25 de novembro de 2017

Irmãs que casaram juntas em fazenda de MS completam 60 anos de união com grande festa

Cerimônia ocorreu no dia 20 de novembro de 1957 e, neste sábado (25), casais “oitentões” comemoram bodas de Diamante.


Os 230 km de extensão da MS-040, que liga Campo Grande a Santa Rita do Pardo, trazem muito mais do que asfalto e fluxo diário de veículos. Na altura do km 85, uma linda história de amor, em dose tripla. Há 60 anos, três irmãs se casavam em uma propriedade rural, onde hoje passa a estrada, homenageada também como rodovia Manoel Lino de Rezende "Neco".
A cerimônia ocorreu no dia 20 de novembro de 1957, na sede da fazenda Monte Alegre, a 90 km da capital sul-mato-grossense. Neste sábado (25), os casais “oitentões” comemoram as bodas de Diamante. Os filhos falam, com tanto orgulho da história, que dizem ter intenção até de procurar o guinness book (livro dos recordes, atualmente chamado de Guinness World Records), por não conhecer nenhum caso semelhante.
Os casais são Benedito Rosa Lemes, de 85 anos, casado com Alzira Lina Rosa, de 84 anos, além de Agnelo Pereira de Rezende, de 88 anos, tendo como esposa Amália Lino de Rezende, de 82 anos e, por último, Antônio Batista Nogueira, de 81 anos e Alice Rezende Batista, de 81 anos.
“É uma festa que organizamos com muito amor e nunca deu problema. Nossa reunião é feita um ano antes, quando começamos a pensar, principalmente porque eles já estão idosos e dificulta a locomoção. Todos ainda residem em fazendas”, afirmou ao G1 o pecuarista Ailton Rosa Rezende, de 59 anos, filho do seu Benedito e D. Alzira.
A primeira edição, quando os casais completaram as bodas de esmeralda, o que equivale a 40 anos juntos, resultou em uma festa para 1,7 mil pessoas, garantem os organizadores. Já nas bodas de ouro, após cinco décadas de união, o evento ocorreu somente para a família e agregados, com 280 pessoas. Somados mais 10 anos, agora o trio de casais que completa bodas de diamante e a festa tem 340 convidados.
"Tenho lembranças muito boas dos meus avós, pais e tios naquele sede. É uma época muito diferente dos tempos de hoje, não tínhamos telefone, a comunicação era muito díficil. Lembro que, aos seis anos, já tirava leite no campo e soltava bezerros. As viagens também eram longas, duravam cerca de dois dias e nós dormíamos nos vizinhos", lembrou Ailton.

Gerações

Aos 12 anos, o pecuarista diz que conhecia o alfabeto, porém, não sabia ler nem escrever. "Meus pais me trouxeram para Campo Grande e mudaram para uma sede na região do Taboco, onde permanecem até hoje. Eu servi o quartel e depois me casei, tendo a certeza que a nossa história já se perpetua por três gerações. São muitas lembranças, inclusive, quando meu pai foi um dos primeiros a comprar um rádio e ouvíamos todos reunidos durante as noites", comentou.
Filho do Sr. Agnelo e D. Amália, o também pecuarista Aleixo Alves de Rezende, de 56 anos, conta que levou todo o conhecimento para sua sede, em Ribas do Rio Pardo, onde mora há 28 anos. "Não tem outro lugar que eu me sinta melhor do que no campo. A única diferença minha para meus pais é que sou um pouquinho mais devagar no quesito casamento. Prefiro namorar e estou noivo há quase 14 anos", brincou.
Já o filho do Seo Antônio e D. Alice, o empresário e representante de produtos veterinários, Adão Rezende Nogueira, de 55 anos, ressaltou a união da família. "A tradição dos meus avós continuou e a minha maneira de homenagear foi buscando colocar o nome do meu avô na rodovia. Ele lutou muito em uma época de dificuldade de locomoção e comunição, além da falta de acesso à saúde. Eu mesmo, quando nasci, retornei para casa em um cavalo segundo disseram meus pais", disse.
Em sua memória, estão os dias de visita para a avó na sede, quando "marcavam" os bezerros. "Minha vida foi, em grande parte, na zona rural. Em Campo Grande, eu ainda continuo neste ramo, pois montei um escritório e trabalho com produtos veterinários. Com o tempo, veio a oportunidade de homenagear a família Rezende e a lei 4.397, de 3 de setembro de 2013, nos proporcionou isto", ressaltou ao G1 Nogueira.
Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)
Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)

Desbravador 

A publicação, no Diário Oficial do Estado de Mato Grosso do Sul (Doe), ressaltou que Manoel Lino nasceu em 26 de abril de 1899, na Fazenda Monte Alégre, à época ainda denominado estado de Mato Grosso. O cidadão foi considerado um "grande desbravador da região", pois, mesmo sem recursos necessários de sobrevivência e desenvolvimento, permaneceu no local.
Uma das maiores dificuldades para seu "Neco", conforme a família, foi vivenciar à dificuldade de transportes, principalmente quando o filho de 14 anos de idade morreu em decorrência de um projétil de revólver disparado de forma acidente por outro ainda adolescente, filho de um vizinho mais próximo da fazenda distante 12 km.
O projétil não atingiu nenhum órgão vital e o menino permaneceu vivo por mais 11 horas. No entanto, sem locomoção, ele morreu por conta de um sangramento. Não havia, na ocasião, nenhum medicamento adequado e então ele presenciou a morte "lenta e sofrida". Mesmo com tantos sofrimentos, o homem ali permaneceu, cresceu e constituiu família. A região inclusive era conhecida como sertão na época.
Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)
Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)
Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)
 Filhos possuem muito orgulho da história dos pais (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)
Tamanha história, é repassada pelas gerações. "Acredito que é quase impossível uma história como esta. Nós todos nascemos com parteiras e nossa infância foi baseada em coisas simples, porém, com muito respeito e alegria. E tudo isto está sendo repassado até hoje. Apesar da vida sofrida e de muito trabalho dos nossos pais e avós, característica do campo, temos muito orgulho de ver os velhinhos juntos", finalizou o pecuarista Ailton.

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