Anitta é poderosa, mas não se gaba – a não ser quando provocada. Corta para as férias mais recentes da garota. A Mulher do Ano está com o marido, o pai e alguns amigos em Los Cabos, no México. Um calor escorchante, semidesértico e seco, de derreter peiote. Vestindo shortinho de cintura alta, top de manga e uma rasteirinha, ela cola com a sua crew na balada à beira da praia.
Ao lado, as mulheres de um grupo de casais, aparentemente muy bien nacidas, pero peruas, com botellas decoradas com fogos de artifício nas mesas, ficam chocadas com a menina de look simples e começam entre si a fazer pouco caso dela, cuspindo olhares tortos. Uma delas a fotografa.
De um ponto privilegiado – Anitta se levanta do sofá onde concede entrevista à GQ, caminha de um lado a outro para explicar a história –, a brasileira ganha a cena: a foto fora enviada em um grupo de WhatsApp e já é motivo de piada. Mas, na dela, nossa musa continua a dançar “do jeito que eu danço”.
É então que começa a tocar Paradinha, hit em espanhol da cantora que saiu de uma favela carioca e cujo refrão você pode até fingir que não, mas conhece. No telão, à frente dos dois grupos, o clipe bomba. Na sequência, o DJ solta no som e na tela a versão de Sim ou Não com o colombiano Maluma, primeira investida de Anitta no mercado latino. “E aí vieram umas três meninas, pediram foto e saíram. As mulheres ficaram olhando para o telão e olhando para mim, olhando para o telão e olhando para mim.
Todas com ciúmes dos maridos! Aí a coisa mudou um pouco, não é mesmo?” Ela, então, sorri um sorriso sarcástico com notas de fundo de vingança e completa: “Chamei o garçom e mandei entregar para a que tinha tirado a minha foto a garrafa mais pirotécnica e cara da balada.
Ela ficou morreeendo de vergonha e perguntou: ‘É pra mim?’”. Ah, como é doce a vingança! “‘Sim, é pra você, querida’, eu disse. ‘Como eu vi que você tirou uma foto minha, entendi que você é minha fã. Então, tô te mandando esse regalito. Obrigada pelo carinho!’” Cabe aqui um trecho de Paradinha, sem tecla sap: “Yo no soy santa / Tengo actitud, sí / No soy fácil / Pero te encanta”.
Novo corte, para o dia da entrevista. Em 2017, com hit atrás de hit e carreira internacional construída passo a passo. Sem pressa, com foco e metas. “A cada ano, eu digo: ‘Esse foi meu melhor ano!’. Isso é o máximo que eu poderia querer.” Superlativa na aparência, gentil e sempre atenta, talvez ela não esteja em seus dias mais radiantes.
Na noite anterior, durante a transmissão ao vivo do Prêmio Multishow, seu mamilo esquerdo ficara à mostra em uma das apresentações que a garota fizera em rede nacional. Não é um peitinho de fora o que a incomoda.
Apesar de o show ser impecável para a audiência do canal, de ela ter cantando em três línguas (português, espanhol e inglês) com fluência máxima, ela acredita que não deu seu melhor no palco. “Fiquei meses preparando uma coisa muito especial. Mas erros acontecem. A gente tem de se acostumar.” Segue o baile: “Por isso, um único momento ou um sentimento específico não tem um peso grande na balança do todo, entende?
Eu enxergo as coisas na totalidade, as partes ruins e as boas.” No Instagram, um trecho bem-humorado do desabafo em forma de post: “... como tem que ter muito peito pra chegar até aqui, talvez o meu tenha crescido demais nessa jornada e tentou roubar a cena”. Enough said.
Bem à vontade em um sofá, Anitta veste camiseta branca larga, uma calça camuflada de moletom com as barras dobradas e uma bota stiletto de camurça verde oliva. Parece que entrevisto uma jovem CEO. Ela fala em planejamento estratégico, product placement, mídia espontânea, em sugerir ações orgânicas para fortalecer parcerias comerciais, análise de imagem, número de pessoas e marcas impactadas. “Quando comecei a ver os camelôs nas ruas vendendo os looks do clipe Show das Poderosas – ‘Olha a pulseira da Anitta! Olha o short da Anitta!’ –, tive um estalo. Preciso estar atenta a isso também”, conta.
Ela vive tanta coisa e em tamanha intensidade que, dos 19 anos, quando começou, aos 24, o amadurecimento pessoal e artístico parece ter sido brutal – no bom sentido –, justificando suas atuais ambições. Ela alugava uma salinha que fazia de escritório em 2013. Em quatro meses, dobrou o tamanho do espaço. Três meses depois, mais um aumento. E agora, também empresária, é hora de crescer em um Brasil que praticamente não cresce.
“Justamente por ter chegado tão rápido a um objetivo que nem imaginava que eu iria conseguir que comecei a planejar uma carreira internacional.” Se continuar nessa velocidade, o mundo pode ficar em breve pequeno para Anitta. Ou não. “Em cinco anos, penso em me preparar para dar um stop na carreira artística do jeito que ela é hoje.
Não quero ter medo de envelhecer e nem a cobrança de ter de continuar jovem, linda, sem ruga, dançando, com a bunda lá em cima, fazendo duas horas de show por noite. Me imagino empresariando outros artistas e com uma carreira mais tranquila para poder ser mãe. Hoje, estou no controle de praticamente tudo relativo à minha carreira.”
O que não está sob seu controle? “A resposta do público.”