Ação teve mais de três mil compartilhamentos em uma rede social. Com mensagem religiosa, militares conversaram com dependentes químicos na linha férrea que corta a cidade.
Uma abordagem policial pode tomar vários rumos e um deles tem chamado a atenção de quem navega pela internet. O trabalho da Polícia Militar às margens da linha férrea inativa, em Presidente Prudente, é constante devido ao trabalho de combate ao tráfico de drogas, mas foi na mesma localidade que militares levaram a usuários de substâncias químicas que transitam pelo trecho, que é uma espécie de "cracolândia" da cidade, um pouco da religião cristã, orientações e incentivos com o intuito de que melhorem de vida. A ação foi compartilhada em uma rede social por um subtenente das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam), que também é pastor em uma igreja evangélica, e tem rendido parabenizações e elogios.
O contato dos policiais com o grupo de usuários de drogas ocorreu na manhã de sexta-feira (27). No mesmo dia, às 15h44, imagens foram publicadas na página pessoal do subtenente Paulo Sérgio das Neves Rodrigues na rede social e, até a tarde desta segunda-feira (30), a publicação totalizou mais de 7,4 mil reações, 3.263 compartilhamentos e centenas de comentários. Um deles diz: “É de mais HOMEMS DIGNOS assim que precisamos!!! Tem meu respeito!! Parabéns pela humildade!! Que Deus abençoe!!”. Outro destaca: “Parabéns! Eles precisam muito de Deus!”.
Ao G1, o subtenente Neves relatou que a equipe realiza abordagens no local constantemente e não é a primeira vez que conversa sobre orientações e incentivos com as pessoas que ficam por ali. “Mas, nesse dia da abordagem, estávamos ali e a gente se comoveu com a situação daquele pessoal. A gente sempre vê praticamente as mesmas pessoas ali. Aí comecei a falar um pouco para eles como pessoas, eles falavam que é muito difícil, que não queriam estar ali e a gente entende que não queriam”, contou. “Falei para eles que Jesus poderia tirá-los dali, como outros já saíram, e comecei a falar de Jesus para eles”, relatou.
“Disse a eles: ‘Nós não somos melhores do que vocês porque estamos aqui, policiais, vocês têm de entender que nós abordamos vocês diversas vezes porque é o nosso papel, não desejamos que vocês estejam ou permaneçam aqui’. Aí começou a conversa”, lembrou ao G1. Eles agradeceram bastante a palavra e o tratamento na ocasião, ainda conforme relatou o subtenente.
Junto com a igreja, o subtenente contou que realiza algumas ações e perguntou aos usuários que foram abordados se aceitavam que levasse coisas para eles e houve resposta positiva. “Aí pedi para que eu pudesse orar por eles e eles aceitaram. Então comecei a fazer a oração e foi quando o policial filmou. Mas a conversa já tinha se alongado por bastante tempo, ficamos mais de uma hora lá”, disse ao G1.
Durante a ação, os policiais também tiveram a ideia de buscar algo para que os usuários pudessem comer. Juntaram-se e levaram refrigerante e algo salgado para comer. Conforme o subtenente, todos agradeceram a ação e, posteriormente, a equipe foi embora.
Comoção
“Neste dia, de fato, alguns deles se comoveram, se entregaram às lágrimas”, afirmou ao G1 o subtenente da PM. “Creio que o Espírito Santo tocou no coração, porque, quando Deus toca, o homem sente. Eu sei que é muito difícil para eles, eu expliquei isso para eles. Disse que nós, policiais militares, não temos prazer em abordá-los ali, a gente queria encontrar com eles em outras situações, outros lugares”, ressaltou.
O vídeo acabou repercutindo e o subtenente relatou que várias pessoas, inclusive ex-viciados em drogas, conversaram com ele. “Uma das pessoas já esteve ali na linha e abordei um monte de vezes, agradeceu que hoje está com a vida melhor”, comentou. “É algo bastante importante e acho que tocou bastante. Lógico que todos não, mas boa parte ali sentiu bastante”, disse ao G1.
Entre os assuntos, se sobressaíram família e Deus na vida deles. “Ali a gente encontra pessoas de todos os tipos, profissionais, pessoas de posse, boas pessoas, de cultura, estudo, e a gente foi explicando isso e desejando a eles que saíssem daquela situação”, relatou.
“A gente já teve a oportunidade de falar sobre essas coisas em outras vezes, mas não aconteceu como na sexta-feira. Foi uma coisa muito bacana que envolveu todos os policiais que estavam ali, eles se manifestaram também, uns falaram alguma coisa de Deus, da vida, então foi um bate-papo bastante tranquilo. Não era policial e abordado, eram pessoas conversando, lógico, torcendo pelo lado do bem e da mudança deles. Foi tudo real”, enfatizou ao G1 o subtenente.
Segundo salientou o militar, “foi muito gratificante”. “Que nem escrevi lá, acho que ganhei muito mais do que eles. Foi muito bom”, declarou.
Repercussão
A postagem feita pelo subtenente Neves conta com fotos e um vídeo (veja acima), que já foi visto mais de 264 mil vezes. “Eu não pensei nisso, mesmo porque não sou muito dado a redes sociais nessa situação. Eventualmente a gente posta foto da nossa equipe da Rocam dando um ‘bom dia’, ‘um bom domingo a todos de serviço’, e achei que teria a mesma função, até que de repente vi que começou a circular na rede social, alguns conhecidos me ligando, conhecidos falando. A proporção foi uma que não dava para imaginar, que eu não sonhava que ia chegar”, colocou.
A repercussão foi vista pelo policial como positiva para os dois lados, pois assim as pessoas também podem ver a situação de quem fica naquela área da linha férrea. Conforme contou o subtenente, há muitos pedidos para que os usuários sejam retirados dali e existe um sentimento da parte criminal em relação a eles.
“Naquelas condições em que estão ali, eles não gostariam de estar, e eu acredito mesmo que alguns ainda vão sair dali. E eu vou continuar dentro do meu papel fazendo o que eu posso, em tratá-los bem e falar de Jesus para eles. Essa é a esperança que eu tenho”, ressaltou Neves ao G1.
Ainda sobre a repercussão, o subtenente comentou que achou “surpreendente a forma como aconteceu”. Além de eu não esperar, acho que repercutiu a imagem boa da Polícia Militar e também essa situação deles ali na linha férrea”, explicou.
“Foi uma coisa coletiva muito bacana, bastante agradável, todo mundo foi adepto. Foi bastante gratificante. E a receptividade dos usuários também, porque muitos olham o policial e só pensam na repressão e nós não somos só isso. Inclusive o lema da Polícia Militar é servir e proteger”, enfatizou ao G1 o subtenente Neves.
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