Equipe composta por seis especialistas iniciou trabalho para identificá-la. Área foi cercada, por segurança.
Arqueólogos e historiadores iniciaram uma investigação para identificar a qual embarcação pertencem os destroços localizados na orla de Santos, no litoral de São Paulo. Segundo o grupo, a estrutura tem mais 100 anos, e a suspeita é de que o naufrágio ou encalhe tenha ocorrido entre 1890 e 1910.
Na manhã de terça-feira (22), a maré baixa e a erosão da Praia do Embaré provocaram o aparecimento de pedaços de madeira e metal que se assemelham a um casco de navio. Segundo a prefeitura, os destroços têm pouco mais de 50 metros de comprimento e 12 metros de largura, aproximadamente.
"A princípio, não tem como ter uma identificação precisa. Verificamos, entretanto, que a estrutura é de madeira, mas possui partes em ferro, o que já nos possibilita dizer que foi construída há mais de 100 anos", explica o arqueólogo Manoel Gonzales, que lidera uma equipe de seis profissionais.
O grupo, formado também por historiadores e arquitetos, iniciou na quarta-feira (23) uma análise das características construtivas da embarcação. Os trabalhos iniciais devem durar ao menos 30 dias e também levam em consideração registros históricos acerca de naufrágios e encalhes ocorridos na barra de Santos.
A área, que foi isolada por equipes da administração municipal, já é considerada informalmente um sítio arqueológico. "No fim desse período, também vamos apresentar à prefeitura um plano de retirada dos destroços, se isso realmente for possível, para que eles sejam expostos em algum ponto ou museu na cidade".
As pistas colhidas nas primeiras 24 horas de investigação fizeram com que o grupo apurasse, preliminarmente, os naufrágios ou encalhes de quatro embarcações: Elitel Fritz e Madonna della Costa, ambos em 1894, e os vapores Nanny, em 1890, e Gloria, em 1909. Todas possuem as mesmas características.
"São embarcações de madeira, cujos registros iniciais apontam para incidentes ocorridos nessa região, em Santos. E o mais importante: estão no intervalo que consideramos, com base no modelo de construção e materiais utilizados para a estrutura desse navio", explicou o arqueólogo, líder da investigação.
Apesar do trabalho, que ocorre sob acompanhamento da prefeitura e do Ministério Público (MP), já ter sido iniciado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aguardava até a noite de quarta-feira um parecer formal da Marinha do Brasil, para saber se os destroços têm, de fato, "valor cultural".
A Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP) informou que enviou peritos ao local em duas ocasiões distintas, inclusive pelo mar, mas que eles não conseguiram verificar a estrutura, em razão da alta da maré. Mesmo assim, a autoridade marítima afirmou estar ciente do ocorrido e que já monitora a área.
Descoberta
Funcionários da limpeza urbana se depararam com a estrutura parcialmente enterrada na areia durante a limpeza das praias, no início da manhã. Equipes da prefeitura foram deslocadas ao local e constaram aquilo que parecia ser parte de um casco de uma embarcação de madeira. A área foi isolada, por segurança.
"Esse navio estava enterrado ali há muito tempo e, com o rebaixamento da areia, acabou 'aflorando'. Pela mureta do canal, por onde passa parte da estrutura desse barco, dá para ver que mais de 1,5 metro de areia foi rebaixada nessa área", explicou a subprefeita da região da orla, Fabiana Ramos Garcia Pires.
O jornalista José Carlos Silvares, autor do livro "Naufrágios do Brasil", desconfia que os destroços são do vapor Glória, hipótese também apontada pelo arqueólogo, e que aparece em telas do pintor Benedicto Calixto, encalhado em 1909. "Tenho 70% de suspeita, pela posição e características do material".
Para o prático em atividade mais antigo do Brasil, Fabio Mello Fontes, trata-se de uma embarcação construída antes de 1930. "Ferro e madeira não foram mais usados depois desse período, por isso, deve ter mais de 100 anos. Certamente é uma embarcação muito antiga, que ainda requer investigação minuciosa", disse.
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