Escritora diz que não vai registrar boletim de ocorrência: 'Ele sabe onde eu moro'. Uber baniu o motorista dos seus quadros.
A escritora Clara Averbuck publicou no início da tarde desta terça-feira (29) um vídeo em seu perfil no Facebook sobre a denúncia de estupro que sofreu de um motorista de Uber. A empresa de aplicativo de transporte baniu o motorista dos seus quadros.
"Estava sumida por motivos óbvios. Fiz um relato de uma agressão que eu sofri e isso viralizou de uma forma que eu não estava esperando. Como sempre vai ter gente duvidando da vítima. Como sempre, vai ter gente dizendo 'Por que não foi na delegacia? Por que não fez B.O.?"
Clara diz que decidiu não registrar a ocorrência na delegacia. Ela aparece no vídeo com um machucado no rosto que teve quando caiu no chão ao ser derrubada pelo agressor.
"Estão me pressionando para fazer denúncia na delegacia. Essa decisão é minha, não confio no sistema, já fui mil vezes na delegacia, já levei mulheres lá, já vi o tratamento que é dado. B.O. não é um documento mágico do Harry Potter que vai te defender. Não significa que vão prender o cara."
“Violência sexual é crime que quem tem que provar é a vítima. Eu não tenho sêmen em mim, eu não tenho nada em mim. Eu tenho só essa marca de quando ele me derrubou no chão. Como é que eu vou provar alguma coisa? Não tem como.”
"O cara sabe onde eu moro. Ele parou na rua do lado porque já estava mal intencionado. Então, antes de entrarem nessa ação punitivista, parem e pensem um pouco sobre o sistema. Não adianta espancar estuprador. Não adianta matar estuprador. Estuprador não é monstro. Estuprador pode ser seu vizinho, seu tio. A maior parte acontece dentro de casa por pessoas conhecidas."
Clara finaliza pedindo para não ser mais procurada para falar. "Tudo o que eu tinha que dizer está dito. Estou mais forte. Vou ficar mais. Ninguém me derruba. "
Denúncia
Na segunda-feira (29), Clara escreveu em seu perfil no Facebook sobre o estupro sofrido. "Bom, virei estatística de novo. Queria chamar de 'tentativa de estupro', mas foi estupro mesmo", escreveu Clara. "Tava bêbada? Tava. F*-se. Não vou incorrer no mesmo erro de quando eu era adolescente e me culpar. Fui violada de novo, violada porque sou mulher, violada porque estava vulnerável e mesmo que não estivesse poderia ter acontecido também."
"O nojento do motorista do Uber aproveitou meu estado, minha saia, minha calcinha pequena e enfiou um dedo imundo em mim, ainda pagando de que estava ajudando 'a bêbada'. Estou machucada mas estou em casa e medicada pra me acalmar", escreveu.
A Uber disse em nota que "repudia qualquer tipo de violência contra mulheres. O motorista parceiro foi banido e estamos à disposição das autoridades competentes para colaborar com as investigações. Acreditamos na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e violência contra a mulher."
Clara disse que ainda não decidiu se vai à Delegacia da Mulher. "Estou decidindo se quero me submeter à violência que é ir numa Delegacia da Mulher ser questionada, já que a violência sexual é o único crime que a vítima é que tem que provar. Não quero impunidade de criminoso sexual mas também não quero me submeter à violência de estado. Justamente por ter levado tantas mulheres na delegacia é que eu sei o que me espera. Estou ponderando."
"Estou com o olho roxo e a culpa de ter bebido e me colocado em posição vulnerável não me larga. A culpa não é minha. Eu sei. A dor, a raiva e a impotência também não me largam. Estou falando tudo isso para que todas as que me lêem saibam que pode acontecer com qualquer uma, a qualquer momento, e que o desamparo e o desespero são inevitáveis. O mundo é um lugar horrível pra ser mulher."
No ano passado, Clara postou ter sido vítima de estupro quando tinha 13 anos.
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