Demitido na noite de segunda-feira, após derrota para o Avaí, técnico ironiza grupo de
dirigentes: "Eles ganham prêmio, saem no NY Times, mas têm que ganhar no futebol"
No quarto adeus ao Flamengo, Vanderlei Luxemburgo escolheu um dos salões de convenção do hotel que serve de concentração para o time, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade, para falar sobre a sua demissão do clube. Mesmo local da saída mais recente, no início de 2012, quando perdera a guerra fria para Ronaldinho Gaúcho. Ali, se hospedou com o grupo para jogos nos últimos 10 meses, período em que comandou o Rubro-Negro, saiu e entrou na confusão e foi descartado pelo Conselho Gestor – queexcluiu o diretor executivo do Rubro-Negro, Rodrigo Caetano, da decisão.
Desta vez, o processo de fritura foi menos intenso, mas ainda assim desagradou ao agora ex-treinador do Flamengo. Luxa sai com a sensação de que poderia ter feito o time render mais e de que merecia ficar mais tempo no cargo – o ex-atacante Deivid, seu auxiliar, e Antônio Mello, preparador físico e fiel escudeiro do treinador, também saem.
– Fiquei surpreso. Passamos por alguns problemas no futebol, e a derrota pertence a eles. Dentro do que ocorreu neste momento do Flamengo, é natural, em função do Carioca, no qual tivemos diversos problemas, elenco à disposição... Sofremos bastante e iniciamos o Brasileiro com muitos problemas. Estou surpreso porque há 20 dias, quando tive sondagem do São Paulo, e não foi um contato oficioso, mas sim oficial, o presidente do Fla disse que eu era fundamental. Como é que mudou três semanas depois? Isso me causa uma surpresa muito grande. O Flamengo fala muito de projeto, de gestão, então como é que fica a situação do profissional, que passa por momentos difíceis? O presidente disse que eu era fundamental. Vai ver era um projeto de 20 dias.
Surpreso, mas também irritado. Com voz rouca e com cara de quem dormiu poucas horas, falou por 40 minutos. E atacou mais do que se defendeu. Vestia camisa azul na entrevista, cor da chapa do presidente Eduardo Bandeira de Mello, mas assumiu a condição de opositor – Luxa votou em Patricia Amorim na última eleição.
– A diretoria tem pessoas sérias, mas na relação de propostas ela é complicada. O Flamengo trabalha com grupo de gestor. Nós, eu e o Rodrigo Caetano, contratados, não somos ouvidos. O grupo resolve as coisas e não sabe nada de futebol. Podem ser competentes nas suas empresas. O Caetano fica de pés e mãos atados. Esse grupo veta tudo. Que experiência (os dirigentes) têm em futebol? Eles ganham prêmio, saem no NY Times, mas têm que ganhar prêmio no futebol, e o Flamengo é futebol
Por outro lado, Luxemburgo fez questão de elogiar o elenco, ressaltando mais uma vez que é necessário reforçá-lo.
– O grupo é sensacional, muito bom, mas faltam dois jogadores para chamar a responsabilidade. Senão ficam só bons coadjuvantes. Isso eles (os dirigentes) não sabem. Desde o ano passado precisamos de referências. Acho que incomodei. O Bap (Luiz Eduardo Baptista, ex-vice de marketing do clube) disse que eu falava muito. Acho que eu não estava alinhado, e eles usam muito esse termo.
Fiquei surpreso. Passamos por alguns problemas no futebol, e a derrota pertence a eles. Dentro do que ocorreu neste momento do Flamengo, é natural, em função do Carioca, no qual tivemos diversos problemas, elenco à disposição... Sofremos bastante e iniciamos o Brasileiro com muitos problemas. Estou surpreso porque há 20 dias, quando tive sondagem do São Paulo, e não foi um contato oficioso, mas sim oficial, o presidente do Fla disse que eu era fundamental. Como é que mudou três semanas depois? Isso me causa uma surpresa muito grande. O Flamengo fala muito de projeto, de gestão, então como é que fica a situação do profissional, que passa por momentos difíceis? O presidente disse que eu era fundamental. Vai ver era um projeto de 20 dias.
Já estava determinado que eu iria sair do Flamengo. Em Atibaia, Wrobel e Fred foram lá incomodados com as minhas entrevistas sobre o CT ser acanhado. E sobre eu falar que prefiro jogar no Maracanã, e Fla tem vontade de jogar seis vezes fora. Isso incomodou o Conselho Gestor, que mandou Fred (Luz, diretor geral) e o (vice de futebol, Alexandre) Wrobel discutirem comigo. Quando falei mal do CT, é porque precisa mudar. As melhorias foram eu quem fiz em 2011. E estou alinhado com a proposta, mas não posso deixar de jogar fora do Rio. O privilégio de jogar em casa tem de existir. Se o Flamengo tiver dois ou três de nível, vão esquecer rapidinho de jogar fora de casa, porque no Maracanã vai dar a receita.
DIRETORIA RUBRO-NEGRA
A diretoria tem pessoas sérias, mas na relação de propostas ela é complicada. O Flamengo trabalha com grupo de gestor. Nós, eu e o Rodrigo Caetano, contratados, não somos ouvidos. O grupo resolve as coisas e não sabe nada de futebol. Podem ser competentes nas suas empresas. O Caetano fica de pés e mãos atados. Esse grupo veta tudo. Que experiência (os dirigentes) têm em futebol? Eles ganham prêmio, saem no NY Times, mas têm que ganhar prêmio no futebol, e o Flamengo é futebol.
Cheguei de viagem com febre, cansado, ia reunir 22h para ser demitido? Fui demitido pela personalidade. Querem pessoas que digam amém para eles. Não entendem de futebol, mas não podemos discordar deles. Fui demitido pelo grupo de gestores por causa disso. O único contrário teria sido o presidente. Saí como saiu o Jayme, o Ney Franco. Quando a situação aperta, tem que ter alguém que diga que o caminho está certo. Quando aperta no Flamengo, é mais fácil cortar aqui. Em 2016 vai ser o ano do Flamengo, eles falam. Por que não renovaram meu contrato até lá? Não houve aumento no meu salário, nem nada, mas queria participar do ano que será muito bom. Não aconteceu nada. Esse era meu projeto. Eles não aceitaram.
Não pode subestimar inteligência. Esse pessoal que está no Flamengo hoje é fundamental em suas empresas fora do futebol. Eu votei na (ex-presidente) Patricia Amorim, e eles nunca se opuseram à minha vinda, porque era para ajudá-los. Agiram corretamente. Queriam alguém para resolver o problema deles, mas continuei sendo da Patricia para eles. Saí da confusão, mas voltei pelo Flamengo, não pela Chapa Azul. Em muitas das reuniões este ano eu continuava sempre da Patricia. Fui mandado embora e continuo da Patricia.
Participei e participo sempre, eu e Rodrigo, ajudando. Desde que cheguei aqui, liguei 10 vezes ao Robinho Mas eles não querem isso. Telefonema meu é fundamental para alguns virem. Uma coisa é ajudar, outra é participar com empresários. Já trouxe muitos jogadores para clubes assim. O Rodrigo sempre junto comigo, Fred Luz e Wrobel. Eu era autorizado por eles, nunca falei com jogador sem autorização. Eles pediam para eu ligar. Fiz na presença deles algumas vezes. Se eles usaram isso agora de maneira diferente, não posso fazer nada. O Caetano é testemunha de que fiz isso com autorização deles.
O Flamengo tem melhor CT do Rio, mas acanhado demais para quem quer tocar futebol. O CT é o mesmo desde a Patricia. Vamos todos os dias lá, e o Conselho Gestor deveria ir lá e ver como funciona. Os jogadores se uniram agora para comprar uma borracha e colocar no vestiário. E o Conselho Gestor? O clube fez agora um convênio com o Nova Iguaçu, que tem CT melhor que o dos grandes. Convênio de um ano. Não participamos do contrato, nem eu e nem o Rodrigo. Foi o Fred Luz.
Como pode isso? Vão fazer parceria e não podemos ajudar, dar ideia? O CT vai continuar, quando tem muita cobrança eles dão uma contribuída. E o CT é fundamental, mas estamos em 2015. Só queremos que seja criado o mais rápido possível. Tem que direcionar alguma coisa ali. Não pode faltar aparelhagem, jogador ficar muito mais tempo que o necessário.
O departamento médico, com a chefia do (José Luiz) Runco, não tem a estrutura necessária para fazer as recuperações no futebol. Isso atrapalha. Não consegui ter time no Carioca, não conseguimos ter os jogadores. Uma série de coisas que impediu, jogador que bate e volta, lesões, não tivemos elenco para fazer o que deveria ter sido feito. O cara tem de jogar todos os dias, para o conjunto pegar, mas começamos o Brasileiro com os mesmos problemas.
ELENCO
O grupo é sensacional, muito bom, mas faltam dois jogadores para chamar a responsabilidade. Senão ficam só bons coadjuvantes. Isso eles (os dirigentes) não sabem. Desde o ano passado precisamos de referências. Acho que incomodei. O Bap (Luiz Eduardo Baptista, ex-vice de marketing do clube) disse que eu falava muito. Acho que eu não estava alinhado, e eles usam muito esse termo.
Montamos elenco bastante versátil. Aí o presidente disse que eu era fundamental para o projeto. Faltavam dois jogadores para dar mais peso. A hora que o Flamengo colocar esse peso de contratação, o elenco cresce. Futebol é assim. Precisa de alguém que carregue a onda, leve porrada e não ligue. Vão contratar e me tiraram? Tem de ficar chateado com isso.
TORCIDA
Ontem (segunda-feira) a torcida queria conversar com dois jogadores (no aeroporto). Uma derrota e os caras vão para o aeroporto, vocês os entrevistam, e eles querem baderna. Não fizeram nada comigo.
Cheguei ano passado num momento em que Flamengo estava morrendo afogado. Não queria ter trabalhado ano passado. Vim porque achei importante para o Flamengo a minha chegada. Saímos da confusão. Não me arrependo. Não ir para a Segunda Divisão foi o grande título que ganhei, até mesmo para os gestores continuarem seus trabalhos. O orgulho foi não deixar o Fla cair, e não sou o culpado. Pega a história de Kleber Leite e Romário, Patricia e Ronaldinho Gaúcho, Marcio Braga e a falta de bola para treinar. Agora nessa gestão acontece o mesmo. A culpa não é minha. E não me arrependo de ter continuado no Fla, de não ter ido para o Inter ou para o São Paulo, que foram propostas oficiais.
O Palmeiras tem técnico. Estou no mercado, mas não me ofereço a ninguém. O presidente do São Paulo foi fantástico em tornar público o convite. Se eu tivesse ido para o Inter em janeiro, ou para o São Paulo agora, eu seria um mercenário. Vinte dias depois fui demitido. Fiquei por causa do Flamengo, mas, hoje, pensando friamente, o São Paulo tem o melhor elenco do Brasil e um convite é de envaidecer. Como estou livre no mercado, escuto proposta. Tem dois clubes que gostaria de trabalhar, Inter e São Paulo, que me chamaram, mas não fui pelo Flamengo.
Vanderlei Luxemburgo já havia treinado o Flamengo em 1991, 1995 e entre 2010 e 2012. No total, são 245 jogos como técnico rubro-negro, 127 vitórias, 67 empates e 51 derrotas. Conquistou o Carioca em 2011. Nesta última passagem pelo Flamengo, foram 59 partidas. Ele estreou no clássico contra o Botafogo, no Brasileiro passado, e venceu por 1 a 0. Foram 34 vitórias, 14 derrotas e 11 empates.
O Flamengo ainda não anunciou o substituto de Luxa, cuja multa rescisória gira em torno de R$ 400 mil – seu contrato com o Rubro-Negro tinha validade até dezembro. O auxiliar permanente do clube, Jayme de Almeida, comanda o treino da tarde desta terça-feira, às 16h. Cristóvão Borges, ex-Fluminense, é uma das principais opções da direção.
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