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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Fiéis se mobilizam contra transferência de padre vítima de racismo

Comunidade católica começou a recolher adesões para um abaixo-assinado, nesta terça-feira (2), na tentativa de manter o sacerdote na Paróquia de Santo Antônio, em Adamantina




A comunidade católica de Adamantina iniciou nesta terça-feira (2), no Centro da cidade, uma mobilização, por meio de um abaixo-assinado, para reivindicar a permanência do padre Wilson Ramos na Paróquia de Santo Antônio.
Segundo Franciele Spina, de 22 anos, participante do movimento, desde que chegou para assumir a paróquia, há aproximadamente um ano e cinco meses, o padre recebe ofensas racistas de algumas pessoas por ser negro e, por conta disso, o bispo da Diocese de Marília, Dom Luiz Antonio Cipolini, quer mudá-lo de cidade.
“Só hoje [2], já recolhemos três mil assinaturas. A mobilização ‘Fica, Padre Wilson’ continuará até a quarta-feira que vem [10], sempre no Centro, das 9h às 16h. Além do ponto fixo, há pessoas passando com livros pelos bairros também. Pretendemos recolher aproximadamente 20 mil assinaturas até a semana que vem”, ressaltou Franciele ao iFronteira.
'Divisão interna'
Por meio de nota, o bispo da Diocese de Marília, Dom Luiz Antonio Cipolini, se manifestou sobre a transferência do sacerdote. A explicação começou com uma passagem bíblica e terminou com o esclarecimento.
Confira abaixo a íntegra do pronunciamento feito pelo bispo.
“'Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir. Se uma casa se dividir contra si mesma, igualmente, não conseguirá manter-se firme' (Mc 3,24).
Caros Irmãos e Irmãs
Que a paz de Jesus Cristo esteja presente em seu coração e na sua família!
Na manhã do dia 28 de novembro, mais exatamente às 10h30, na Cúria Diocesana, estive reunido com o Pe. Wilson Luis Ramos, com o Cônego João Carlos Batista, Vigário Geral da Diocese e com o Pe. Maurício Pereira Sevilha, Chanceler. Procurei esclarecer ao Pe. Wilson sobre o resultado do Relatório da Audiência com a Paróquia Santo Antônio de Pádua de Adamantina, ocorrido no dia 14 de outubro das 08h15 às 16h45 na Casa Pastoral Dom Osvaldo Giuntini, na presença do Pe. Orandi da Silva, Vigário Episcopal da Região Pastoral II e do Pe. Marcos Cesário da Silva, membro do Conselho de Presbíteros da Diocese. Apresentei ao Pe. Wilson o resultado da Audiência e também vários e-mails e mensagens que me foram enviados. Este resultado apresenta uma Paróquia dividida, com ‘grave prejuízo ou perturbação à comunidade eclesial’ (Código de Direito Canônico, Cânone 1741). Diante desta realidade, orientei o Pe. Wilson para que entregasse a Paróquia, no que Ele, gozando de sua liberdade e consciência, a entregou. Espero que esta decisão contribua para que se estabeleça entre nós o Ano da Paz, que deverá ser inaugurado no próximo dia 30 de novembro, por iniciativa da CNBB. Não consigo enxergar, nesta situação, nem vencedores e nem vencidos, apenas pessoas que amam a Jesus Cristo e à sua Igreja e querem trabalhar pelo crescimento do Reino de Deus. Confesso que tenho recebido e recebi várias mensagens e testemunhos pró e contra o trabalho do Pe. Wilson, o que vem confirmando a divisão interna da Paróquia. Tenho rezado e pretendo continuar rezando para que, pela intercessão do Glorioso Santo Antônio, possamos Caminhar Juntos e Evangelizar.
A todos concedo a minha bênção”.
'Eu desejo ficar'
O padre Wilson Luis Ramos explicou ao iFronteira, na tarde desta terça-feira (2), a sua versão sobre a história envolvendo a transferência e revelou que foi pressionado a entregar a paróquia.
“Existe um grupo de pessoas insatisfeitas na paróquia que não aceitaram a minha chegada. Elas entraram em contato com o bispo e conversavam quase sempre com ele. O que aconteceu foi que o bispo as escutou e disse que eu estava dividindo a paróquia e isso não é verdade. A própria movimentação é uma forma de reforçar que isso não é verdade”, disse o sacerdote.
De acordo com Ramos, no início houve um preconceito muito grande por parte de alguns fiéis da paróquia. “Em cima da igreja, há um galo de bronze e esse grupo chegou a sugerir que ele fosse tirado para colocarem um urubu no lugar. Foi a partir daí que começou todo alvoroço”, contou ao iFronteira.
“A nota diz que eu aceitei em liberdade e consciência, mas a gente vai sendo pressionado, pressionado, pressionado, que uma hora você precisa ceder, diante de tanta insistência. Isso não é uma escolha minha. Eu queria ficar, eu desejo ficar, não tenho nenhum motivo para sair”, revelou Ramos aoiFronteira.
Sobre a manifestação, por meio do abaixo-assinado realizado pela comunidade católica, o sacerdote avalia como um ato de carinho e reconhecimento de seu trabalho.
“Agradeço de coração, isso é uma maneira de expressar a confiança e o carinho que eles têm por mim. É uma coisa muito bonita. Apesar de toda essa confusão, estou recebendo uma prova de amor e de respeito e isso para mim é muito gratificante, é o reconhecimento de todo um trabalho”, declarou o padre.
“Eu acredito que o principal, nessa hora, seria o diálogo. É muito mais evangélico sentarmos e conversarmos, ao invés de ficar nessa guerra toda”, desabafou o sacerdote ao iFronteira.



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