Na retrospectiva de 2014, diferentes formas de consumo e mico do U2; para o ano que vem, grandes shows a caminho
RIO - Num ano em que o país comemorou, com mil tributos de artistas diversos, o centenário de Dorival Caymmi e os 70 anos de Chico Buarque, não faltou espaço para artistas com décadas de serviços prestados, como Gilberto Gil, Ney Matogrosso (homenageado pelo Grammy Latino), Fagner e Zé Ramalho (que se juntaram em show e DVD). Conviveram, nos palcos, nomes dos anos 1980 (Titãs, Paralamas), 90 (Skank, Raimundos) e mesmo dos 00 (Pitty). Já alguns dos artistas revelados nos últimos anos, como Criolo (que lançou o álbum “Convoque seu buda”), seguiram por um circuito entre o mainstream (onde surgiram fortes, em 2014, os nomes de Valesca Popuzuda e MC Guimê) e o underground (de produção farta e variada, mas concentrada na internet).
O que o ano revelou de mais importante, porém, para a música brasileira, tem a ver com as formas de consumo. Com sistemas de streaming (Rdio, Napster, Deezer e Spotify) consolidados, cada vez mais as ideias sobre a aquisição de fonogramas (seja em CD ou arquivos digitais) foi questionada. Numa época em que se ouve mais música nos celulares do que nos CD-players, a indústria se viu num impasse. O mercado de discos em vinil corre por fora, ainda mais cult do que comercialmente relevante.
Nos EUA, é tal o aumento do uso de sistemas de streaming que, acredita-se, o ano desses serviços será concluído com receita de US$ 3,3 bilhões (crescimento de 37% em relação a 2013). O que, na visão de alguns artistas, não é exatamente uma boa coisa, vide a cantora Taylor Swift (do disco “1989”, um dos maiores sucessos do ano), que há algumas semanas mandou retirar todas as suas faixas do Spotify e do Rdio. A batalha dos artistas é por aumento nos royalties pagos. Dono de uma das canções mais tocadas em 2014, “Happy”, Pharrell Williams teria recebido (de acordo com o site “Business insider”) apenas U$ 2,7 mil do sistema Pandora, como autor e editor, por cerca de 43 milhões de execuções.
Independentemente da forma de consumo, o que não faltou em 2014 foi hit. Alguns vieram do cinema, como o próprio “Happy” (da trilha de “Meu malvado favorito 2”) ou o onipresente “Let it go” (de “Frozen”). Outros, de artistas novos, como Ed Sheeran, Sam Smith, Taylor Swift e Lorde (curadora da trilha do novo filme da série “Jogos vorazes”). E se dá para falar em algum ícone do pop do ano, este foi a bunda, tema de sucessos de Nicki Minaj (“Anaconda”, do clipe da foto acima), Iggy Azalea e Jennifer Lopez (“Booty”) e, com boa dose de ironia, de Meghan Trainor (“All about that bass”).
O contato dos brasileiros com os astros internacionais foi grande, em mais um ano com shows de Paul McCartney. O Lollapalooza trouxe, em abril, a São Paulo, atrações como Muse, Nine Inch Nails, Phoenix, Pixies, Soundgarden e Lorde. Outros festivais, porém, não foram tão felizes. O Planeta Terra, que ia acontecer no fim do ano, foi cancelado. E o Zoombie Ritual Open Air, este mês, em Santa Catarina, se viu numa confusão tal que boa parte das estrelas principais (Carcass, Venom, Brujeria e Destruction) cancelou a vinda em cima da hora.
MUITAS MORTES NO MUNDO DA MÚSICA
E o ano também foi de muitas mortes. Na MPB, foram-se Jair Rodrigues, a rainha do rádio Marlene, Nelson Ned, Vangel Leonel, a forrozeira Clemilda e Cybele, do Quarteto em Cy. No exterior, a lista inclui o mestre do flamenco Paco de Lucía, o patrimônio do folk americano Pete Seeger, o guitarrista de blues Johnny Winter e as grandes vozes de Bobby Womack e Joe Cocker. Em 2014, o rock ficou sem Phil Everly (dos Everly Brothers), Jack Bruce (baixista do Cream), Ian McLagan (tecladista dos Small Faces), Bobby Keys (saxofonista dos Rolling Stones), Bob Casale (guitarrista do Devo), Scott Asheton (baterista dos Stooges de Iggy Pop), Tommy Ramone (baterista e último dos Ramones originais ainda vivo) e Gustavo Cerati (líder da banda argentina Soda Stereo). Os DJs Frankie Knucles e Rashad, o produtor de musica eletrônica Mark Bell (do LFO) e o compositor italiano de trilhas Riz Ortolani também deixaram o planeta neste ano que se vai.
O MICO DE 2014: TIRO DIGITAL DO U2 SAIU PELA CULATRA
A ideia era uma estratégia de marketing de lançamento inédita: dar de presente aos usuários do iTunes o novo disco do U2, “Songs of innocence”. “Nunca antes tantas pessoas possuíram um álbum e muito menos no dia do lançamento”, valorizava a Apple em e-mail aos clientes do serviço. “É um momento histórico na música, e você está fazendo parte dele”