Lutador confessa incertezas para plateia de médicos em evento de medicina esportiva: "Não estou conseguindo fazer algumas coisas que eu fazia antes"
Anderson Silva foi o centro das atenções num congresso de medicina esportiva realizado no fim de semana, no hotel Windsor Barra, no Rio de Janeiro. O "Rio Sport & Health 2014" (Rio Esporte & Saúde 2014, em português) teve o Spider participando de uma mesa redonda sobre o tema "lesões no esporte" ao lado de Rodrigo Minotauro, Rafael Feijão, o Dr. Marco Aurélio Sousa, o preparador físico Rogério Camões e o fisioterapeuta Fabiano Bastos. O mediador foi o Dr. Márcio Tannure, diretor médico da Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA). Foi Tannure, por sinal, quem idealizou e presidiu o congresso. Durante o debate, para uma plateia especialmente de médicos e estudantes de medicina, Anderson admitiu que está lidando com um déficit de força na perna esquerda, fraturada na revanche contra Chris Weidman no fim de 2013, e disse estar apreensivo.
- Quando eu tive a lesão, várias coisas passaram pela minha cabeça. Primeiro que já estou na fase "duzenta", né (risos)? Aí complica um pouco. Fiquei bem apreensivo, achei que não voltaria a lutar mais. O Fabiano está acompanhando minha recuperação, e a gente está vendo o déficit de força que a perna teve. Não é muito fácil. Confesso que fiquei meio apreensivo. Não estou conseguindo fazer algumas coisas que eu fazia antes. Estou tentando ganhar isso no treinamento de força com o mestre Camões e com a fisioterapia. Foi uma coisa que me assustou bastante. Nunca tinha me machucado. Foi uma coisa que me deixou bem assustado.
O Spider afirmou que precisa superar um bloqueio em relação aos movimentos que executa com a perna esquerda no treino. Ele também disse ter perdido força e estabilidade no quadril:
- A lesão está superada. Ainda existe um bloqueio no tipo de movimento que eu executo durante os treinos de luta. A gente está trabalhando em cima disso para que eu possa voltar às minhas atividades normais e fazer o que eu fazia antes com propriedade. Ainda fico meio inseguro. No treino de defesa de queda, por exemplo, uso muito minha perna, meu joelho e o quadril. E eu perdi um pouco de força e de estabilidade no quadril. A gente está tentando ganhar isso de volta. Para fazer isso, existe um treinamento específico de força e a fisioterapia, que é super importante. E a cabeça tem que estar bem. Vou voltar. Se não der, vou cantar (risos).
O peso-pesado Minotauro, que é um dos maiores exemplos de superação quando o assunto é a parte física, destacou a importância de ter sempre um acompanhamento médico:
- Fiz diversas cirurgias, mas a que mais me deixou preocupado foi essa no meu braço direito. Quebrei o braço lutando contra o Frank Mir e coloquei 16 parafusos. Foi um processo muito complicado e muito dolorido. É normal que a gente conviva com as dores e superações. Todo mundo que trabalha com alto rendimento tem que superar alguma dor. A gente tem que saber lidar com isso. É muito importante ter uma equipe em volta para poder te aconselhar, dizer qual tipo de treinamento você tem que fazer. É importante também ter um fisioterapeuta te alongando, fazendo aquele pós-treino preventivo.
Em um momento descontraído e que deixou de lado o tema principal, Rafael Feijão foi perguntado sobre qual sua maior dificuldade de manter o percentual de gordura ideal. "Você tem metabolismo lento ou come muito, visto que está sempre com o peso muito acima do ideal?", escreveu alguém da plateia, gerando risadas gerais quando Tannure leu a pergunta. O lutador entrou na brincadeira e respondeu com sinceridade:
- Os dois (risos). A gente faz um programa de treinamento quando a luta é marcada. Agora estou em "off season", porque estou com uma lesão no ombro. Na verdade antigamente eu tinha muita dificuldade de bater o peso de 93kg. Mas agora não é mais assim. Essa agora é uma ocasião especial, devido à lesão no meu braço direito.
O objetivo do congresso, segundo o site oficial do mesmo, foi "proporcionar várias horas de sessões de alto nível científico, aliado à experiência prática de médicos e atletas, abordando primordialmente temas relacionados ao esporte e à saúde na atividade física. E atualizar o conhecimento dos profissionais médicos, atletas e esportistas proporcionando a troca de experiência, oferecendo a oportunidade à avaliação crítica da grande quantidade de informação à disposição dos participantes".
O evento teve ainda um curso de "cutman", profissional que cuida dos ferimentos e outros danos físicos dos lutadores nos intervalos dos rounds dos combates, ministrado por Adrian "Tenacity" Rosenbusch e Jacob "Stitch" Duran, que estão sempre nos cards do UFC. Além disso, a equipe Rio Fighters, liderada pelo lutador Miltinho Vieira, fez demonstrações de luta no octógono montado no local para auxiliar o árbitro Mário Yamasaki a tirar dúvidas sobre as regras do MMA. O Dr. Márcio Tannure comemorou o sucesso do congresso:
- Apesar de ter sido bem cansativo, pois foi junto do fim de semana do UFC Rio, o sentimento de realização é total. Estou muito feliz com o resultado. Tenho esse pensamento de deixar um legado. A medicina esportiva, a medicina dos esportes de combate, o MMA, nós precisamos disso. Acho que esse evento é um marco inicial, o ponto zero. A gente fez um curso, mesmo que informalmente, para preparar médicos que tenham interesse em trabalhar com esportes de combate. Foi anunciado nosso trabalho em prol da criação da associação de médicos de combate do Brasil. Foi realizado o primeiro curso oficial de cutman da Comissão Atlética Brasileira de MMA, onde a gente conseguiu fazer não só a parte teórica, mas também prática. Estou iniciando um movimento que já deveria ter sido feito algum tempo atrás. Me sinto grato por isso. Sei que tem um preço a pagar e estou pagando. Outras pessoas vão usufruir disso, faz parte do crescimento. Fico muito feliz com esse momento. Espero que seja o primeiro de muitos e que a gente possa evoluir cada vez mais. O intuito final é melhorar a qualidade do esporte, a condição de treinamento e a qualidade de saúde do atleta.
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