Médico diz que se tudo correr bem, separação deve ocorrer em dezembro.
Ele ressalta relação de amizade com os meninos: 'Temos códigos secretos',
Os gêmeos siameses Arthur e Heitor, de 5 anos, unidos pelo tórax, abdômen e bacia, passaram nesta terça-feira (23) pela sétima cirurgia para colocação de expansores de pele desde que nasceram. A expectativa agora é de que as bolsas de silicone não sofram rejeição como outras vezes. Segundo o médico Zacharias Calil, responsável pelo procedimento, se tudo ocorrer dentro do planejado, a operação de separação deve acontecer até o final deste ano.
"Em 20 dias, se tiver tudo certo, as bolsas começam a expandir. Esse procedimento completo demora cerca de dois meses. Então, nossa previsão é de que possamos separá-los até o próximo mês de dezembro", afirmouo médico ao G1.
Os expansores tem 750 ml cada um e foram colocados no tórax de Heitor. "O Arthur já tem pele suficiente", diz Calil. O procedimento durou cerca de 2 horas, foi realizado por oito profissionais e considerado um sucesso. Esta é a última etapa a ser vencida antes da separação.
"O problema é que a pele deles é muito fina. Eles são muito magrinhos, não tem gordura subcutânea. A pele deles fica praticamente em contato com o osso. Mas é impossível fazer a cirurgia de separação sem que isso esteja resolvido. Não podemos correr riscos, mas também não podemos esperar mais", conta. Segundo o cirurgião, a separação, em casos semelhantes, é feita com até um ano de vida. Acima disso, se torna ainda mais arriscada.
Todos os expansores serão retirados durante a cirurgia de divisão. Assim que saíram do centro cirúrgico, eles foram encaminhados para um leito de enfermagem, onde passam bem. A previsão é de que eles tenham alta na manhã de quarta-feira (24).
Amizade
Calil acompanha os siameses desde o nascimento. Por isso, confessa que tem com eles uma relação muito além da que comumente é estabelecida entre médico e paciente. "Temos uma relação mais de amizade. Enfrentei todos os problemas com eles. Gosto muito deles. Sabe como é criança. Temos até códigos secretos que as outras pessoas não entendem", afirma.
O cirurgião diz que às vezes recebe uma ligação dos gêmeos pedindo que ele leve chocolate quando for para o hospital. Em todas as festas de aniversário, Calil também participou, inclusive, da última, realizada em abril deste ano. Quando Arthur e Heitor forem separados e forem para a Bahia, onde sua família mora, o profissional diz que ficará balançado.
"Tem o lado emocional. Penso neles praticamente todos os dias, como vai ser, se eles estão resfriados. Ficará um vazio. Será um alívio por um lado, mas ficará a saudade pelo outro", pondera.
'Anjo'
A professora Eliana Ledo Rocha de Brandão, de 37 anos, mães dos gêmeos, fez muitos elogios ao médico que realizou a cirurgia em seus filhos. "Ele é um anjo na nossa via, devolveu a esperança que não tínhamos mais. Os médicos de Salvador [BA] não tinham muito conhecimento sobre o caso e até iriam me encaminha para Campinas [SP] para fazer o parto. Mas depois descobri o doutor Zacharias, resolvi vir para cá", conta.
Ela encontrou o médico logo após descobrir que estava grávida de siameses. Ela procurou na internet casos semelhantes ao seu e leu sobre a equipe do cirurgião. "Troquei emails com ele e vim para Goiânia grávida. Eles nasceram no HMI", lembra a mulher, que é de Riacho de Santana, cidade do interior da Bahia.
Apesar da operação, Eliana diz que já se acostumou com a "rotina" de procedimentos. Ela disse a expectativa em relação a cirurgia de separação é grande, mas garante estar muito tranquila e confiante em relação ao isso, por se tratar de um desejo tanto dela quanto das próprias crianças.
"Deus está agindo no momento certo. Durante muito tempo eles viveram juntos e nada aconteceu, então me agarro a isso. Creio nessa vitória. Eles mesmos querem muito, pois têm divergência na hora de ver televisão ou na hora de tomar banho, por exemplo. Eles querem viver de forma independente", conta.
Com os filhos separados e saudáveis, a professora pensa em voltar para a cidade onde vive para criá-los. "Minha vida está lá. Além disso, a vida da minha família está lá. Quero poder cuidar mais da nossa outra filha, que tem 7 anos e ver os meninos correndo pela casa. Ficamos muito pouco com ela. É o nosso maior sonho", vislumbra.
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