Captação de reserva técnica na Atibainha já era planejada, afirma Sabesp.
Sistema acumula 100 dias consecutivos de queda no nível dos reservatórios.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) começou a retirar água da reserva técnica, conhecida como volume morto, da Represa Atibainha, entre Mairiporã e Nazaré Paulista. O reservatório integra o Sistema Cantareira, principal fornecedor da Grande São Paulo e da capital, e é o segundo a ter a captação na área mais profunda, abaixo das comportas.
A primeira etapa de bombeamento do volume morto foi dividida em dois blocos: em maio, a companhia iniciou a captação da reserva de 105,5 bilhões de litros no reservatório Jaguari-Jacareí para o abastecimento da população. A partir do fim de agosto, mais 77 bilhões de litros começaram a ser retirados da Represa Atibainha. Segundo a Sabesp, as novas ações já eram previstas. O custo total das obras foi R$ 80 milhões.Mesmo com a chuva no domingo (31), o Cantareira acumulou o 100º dia consecutivo de queda no nível dos reservatórios. Desde 25 de maio, quando o nível estava em 25,6% da capacidade das represas, foram mais de três meses com queda nos índices, segundo dados da Sabesp.
Nesta segunda-feira (1º), o sistema operava com 10,8% de sua capacidade, já com o volume morto. A Sabesp já tem autorização da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento Estadual de Água e Energia Elétrica (DAEE) para iniciar obra de captação da segunda cota do volume morto, mas não deu detalhes de custo ou prazos.
'Volume morto'
O Sistema Cantareira abastece cerca de 9 milhões de consumidores na Grande São Paulo. As represas vêm secando nos últimos meses e, desde o final do ano passado, a falta de chuvas leva a capacidade a níveis alarmantes. O volume morto começou a ser explorado nos Reservatórios Jacareí-Jaguari em maio.
Na época do início do bombeamento da água do fundo dos reservatórios, o nível saltou de 8,2% para 26,7% da capacidade total do sistema, e água do volume morto foi incorporada ao volume útil. A reserva nunca havia sido utilizada antes porque as bombas não captam nessa profundidade.
A ANA divulgou previsão de que a água no Sistema Cantareira dura até novembro deste ano. Segundo o governo estadual em São Paulo, o volume morto garante o abastecimento até março de 2015. A expectativa é que a estação de chuvas, a partir de outubro principalmente, possa reverter o atual quadro.
Seca
O mês de agosto, a exemplo de outros seis meses do ano, terminou com chuvas abaixo da média histórica. Foram 22,7 milímetros contra o esperado de 36,9 milímetros. Dos oito meses do ano até agora, apenas em março choveu mais do que a média. Ao longo dos oito primeiros meses de 2014, a precipitação acumulada foi de 58% do esperado, o que agravou a crise no abastecimento da Grande SP.
A falta de água tem mudado tanto o cenário das represas como o modo de vida de quem reside perto delas. Nas proximidades da Represa de Nazaré Paulista, o músico Aparecido Ribeiro aponta queda na quantidade de turistas que procuravam a região para atividades na água.
"A pessoa chega aqui e pergunta: cadê a água. Eles se decepcionam com o que veem", relatou ele, que começou a trabalhar no projeto no início do ano. O tanque de peixes dele não baixou porque é abastecido por uma mina que desce de um morro ao lado, mas a sogra precisou fechar um bar às margens do canal do Rio Acima, entre Nazaré Paulista e Mairiporã. "Não passava mais barco, então não tinha movimento. A situação só melhorou um pouco porque a Sabesp começou a bombear água da represa para o canal", disse Ribeiro.
Vazamentos
Outro problema que agrava a crise no sistema é a quantidade de água desperdiçada antes mesmo de chegar ao consumidor. No ano de 2012, São Paulo perdeu 36,3% da água tratada pela Sabesp segundo pesquisa do Instituto Trata Brasil com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
As perdas ocorrem por causa de vazamentos na distribuição, ligações clandestinas, roubos e falta de medição. Os dados são os mais recentes disponíveis no SNIS e colocam a capital paulista em 25º lugar no “Ranking do Saneamento Básico nas 100 Maiores Cidades do País”, divulgado pelo Trata Brasil. A metodologia foi desenvolvida pela empresa de consultoria GO Associados.
A Sabesp rebateu os dados afirmando que, se considerado apenas os vazamentos, a empresa tem índices melhores que o de países desenvolvidos. “Esse indicador era de 20,3% no início de 2014 e já caiu para 19,8% em junho/2014. Nos melhores sistemas do mundo, como Japão e Alemanha, as perdas físicas estão em torno de 8%. No Reino Unido são de 16%, na Filadélfia (EUA) são 25,6%, na França, 26%, e na Itália, 29%”, informou em nota.
Entretanto, a empresa não detalhou os dados, apontando se eles refletem a situação na cidade ou no estado. A companhia informou ainda que prevê aplicar R$ 6 bilhões, entre 2009 e 2020, para atingir índices de perdas de 16,7%. A empresa diz já ter aplicado R$ 1,45 bilhão e que conta com financiamento do Japão.
Motivo da crise
A crise no Cantareira começou por causa da pouca chuva e das altas temperaturas no último verão. No inverno, segundo a meteorologista Josélia Pegorim, da Climatempo, os níveis de chuva estão próximos do esperado para a estação. “Todo o problema de abastecimento de água na Grande São Paulo é decorrente da falta de chuva que aconteceu especialmente no verão 2013/2014”, disse.
Segundo ela, a expectativa é de voltar a chover regularmente apenas em outubro. “O quadro de seca vai continuar. A expectativa é que a chuva comece a cair com alguma regularidade mais no final de setembro e principalmente em outubro”, diz. Ainda assim, a possibilidade de as chuvas atrasarem não está descartada.
O Sistema Cantareira é formado pelas represas Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha. Elas ficam no estado de São Paulo e no sul de Minas Gerais. Juntas, as represas fornecem água para cerca de 9 milhões de pessoas na cidade de São Paulo (zonas Norte, Central e parte das zonas Leste e Oeste), além de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba, Barueri e Taboão da Serra, São Caetano do Sul, Guarulhos e Santo André. Parte do interior do estado também recebe água do sistema.
Desde fevereiro, a Sabesp oferece bônus para os consumidores abastecidos pelo Sistema Cantareira que atingirem a meta de 20% de redução ou mais. Para esses consumidores, há desconto de 30% na conta. Dados da companhia, no entanto, mostram que bairros considerados de alto padrão tiveram a pior média de economia de água na capital no primeiro semestre de 2014.
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