Advogado de Everton Santana disse que cliente 'sabia do risco'.
Paulo Ricardo da Silva morreu ao ser atingido por vaso sanitário, no Recife.
O advogado Adelson José da Silva, que assumiu a defesa de Everton Felipe Santana, 23 anos, suspeito de envolvimento na morte do soldador Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos, disse que seu cliente assumiu em depoimento à polícia ter atirado o vaso sanitário do alto da arquibancada do estádio do Arruda, no Recife, na sexta-feira (2). Everton prestou depoimento por três horas, na tarde desta segunda-feira (5), na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Paulo morreu após ser atingido pelo vaso sanitário na saída do jogo entre Paraná e Santa Cruz, pela Série B do Brasileirão. Outros três torcedores ficaram feridos. Everton foi detido nesta segunda-feira pela Polícia Militar, que chegou até ele através de informações recebidas pelo Disque-Denúncia.
"Ele confessou a participação, mas não soube explicar o motivo. Ele disse que foi ao jogo com a intenção de assistir, mas deu vontade de fazer aquilo. Ele sabia do risco [de atingir alguém], mas não queria acertar ninguém. Ele já começou a colaborar com a polícia, confessando o crime. Está arrependido, com medo de retaliação, mas está disposto a pagar pelo que fez. Ele confessou o crime e demonstrou vergonha da família, vergonha dos amigos", disse o advogado.
O rapaz foi indiciado por homicídio qualificado, segundo o advogado. "Não sei qual a qualificação, deve ser motivo fútil. Ele vai passar a noite aqui e depois vai ser levado para o Cotel [centro de triagem]. Vou ver se consigo segurança para ele e vou tentar liberdade provisória ou relaxamento da prisão. Ele trabalha em uma escola, com carteira assinada, o que ajuda no pedido de liberdade provisória", comentou. Everton é auxiliar de serviços gerais.
Adelson José da Silva explicou ainda que Everton admitiu integrar uma torcida organizada, mas não informou qual. "Ele disse que agiu espontaneamente, com outros dois suspeitos. Um deles ele já conhecia e o outro, conheceu no dia mesmo. Disse que, depois que o vaso foi atirado, cada um foi para o seu lado e só souberam da morte pela imprensa", afirmou.
Depoimento
Após o depoimento de Everton no DHPP, a delegada Gleide Ângelo, titular da investigação, conversou rapidamente com os jornalistas. "Em consideração à imprensa, vim aqui dizer que não posso falar sobre o caso. Acabou o depoimento e ele vai ficar preso", limitou-se a dizer.
O pai, a irmã e um tio do jovem também estiveram na delegacia, mas não falaram com os jornalistas.
Entenda o caso
Imagens gravadas na área externa do Estádio do Arruda mostram o momento exato em que os dois vasos são lançados [veja o vídeo abaixo].
Nas imagens das câmeras de segurança, ainda é possível ver os torcedores do Paraná sendo escoltados por policiais montados em cavalos. Os objetos foram arremessados de uma altura de 24 metros, de acordo com o Instituto de Criminalística (IC). O professor de física Beraldo Neto avaliou a altura e calculou que os vasos chegaram ao chão com um peso de 350 kg.
O corpo de Paulo Ricardo foi enterrado no domingo (4), após velório na capela do Cemitério de Santo Amaro. Muita emoção marcou toda a cerimônia, que reuniu centenas de pessoas. Durante o velório, os pais do rapaz passaram mal e precisaram ser retirados do local. Paulo era soldador e trabalhava no Estaleiro Atlântico Sul.Entre os feridos devido à queda dos vasos sanitários está um jovem de 21 anos que foi operado no Hospital Getúlio Vargas (HGV) e teve alta na manhã desta segunda-feira (5). A segunda vítima recebeu alta no sábado (3). Não há informações sobre o estado de saúde do terceiro ferido.
Após o acidente, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu suspender preventivamente a realização de jogos no Arruda. De acordo com nota publicada no site da entidade, o estádio ficará fechado até análise do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, afirmou que a segurança durante o jogo havia sido feita com toda prudência e que o clube também é uma vítima.
No sábado (3), a polícia ouviu um menor de idade que postou mensagens em uma rede social comemorando a morte do torcedor. Ele faria parte de uma torcida organizada do Santa Cruz. O menor prestou depoimento no DHPP e foi liberado em seguida.
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