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sábado, 1 de junho de 2013

"Não quero ser bonzinho", diz o deputado federal e ex-jogador Romário

Melhor jogador do mundo, herói da Copa de 94, mais de mil gols, 30 títulos, seis filhos, três ex-mulheres. Personagem incontestável no futebol mundial e controverso na vida pessoal, Romário, aos 47 anos, soma mais um predicado: é um dos deputados federais mais atuantes em Brasília. Às vésperas da Copa das Confederações, trava uma cruzada anticorrupção no esporte e defende direitos de portadores de deficiência. Tudo isso em meio à recuperação (dolorida) do fim de um casamento de 13 anos


Eleito em 2010 com quase 150 mil votos, Romário, hoje também presidente da Comissão de Turismo e Desporto, chegou a Brasília cercado de desconfiança, mas hoje, com 100% de presença na Câmara, tem projetos de lei importantes (como o que pretende agilizar as pesquisas médicas no Brasil) e trava um verdadeiro embate com a CBF por mais transparência no futebol. É a favor da saída do atual presidente da instituição, José Maria Marin, que recentemente teve seu nome ligado à morte do jornalista Vladmir Herzog durante a Ditadura Militar. Critica os valores estratosféricos que as obras da Copa tomaram. E, sobretudo, luta pela inclusão de portadores de deficiência no País. Sua filha caçula, Ivy, 8 anos, tem Down – síndrome genética que, até seu nascimento, ele praticamente desconhecia. Ivy é também a catalisadora da metamorfose do Romário jogador para o político. “Ela mudou tudo em mim. O egoísmo, a ‘marra’, a antipatia.”

Nascido na favela de Jacarezinho (RJ) há 47 anos, Romário teve uma infância difícil. Convivia com usuários de drogas e não podia comer o que queria. O pai, Sr. Edevair, montou um time de futebol amador, o Estrelinha, para que os filhos focassem no esporte e tivessem uma trajetória diferente da maioria das crianças da comunidade. Talentoso, Romário foi contratado, ainda adolescente, pelo Vasco da Gama. Pouco depois, a Europa: primeiro o PSV da Holanda, pelo qual foi tricampeão holandês, e depois o Barcelona, campeão espanhol e da Supercopa da Espanha. Em 1994, levou a seleção brasileira ao campeonato mundial, depois de 24 anos de jejum em Copas do Mundo. Foi eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA e, de volta aos gramados brasileiros, ganhou muitos títulos pelo Vasco e pelo Flamengo. Sempre polêmico, mantinha desafetos em campo e fora dele, não gostava do cotidiano espartano dos treinamentos e vivia burlando as concentrações. Seu compromisso era apenas com o gol: foi o segundo jogador no mundo a alcançar a marca de mil tentos marcados, junto com Pelé.
Paralelamente, acumulou casamentos e amantes. Com as “oficiais”, Mônica Santoro, Danielle Favato e Isabella Bittencourt, teve cinco filhos: Moniquinha, Romarinho, Daniellinha, Isabellinha e Ivy – a única que não leva o nome de uma ex-mulher. Com a modelo Edna Velho, teve Raphael, quando ainda era casado com Danielle. Em outubro, chegou ao fim a união de 13 anos com Isabella. O motivo: novamente, sua infidelidade. Pela primeira vez, entretanto, Romário não está animado com a possibilidade de ter muitas mulheres. “Se me apaixonasse hoje, seria um cara fiel. Homem mesmo é aquele cara que conquista a esposa todos os dias. Mas como papai do céu é bom comigo, acredito que vou ter mais uma chance.” Durante quase três horas, o deputado recebeu Marie Claire em seu gabinete em Brasília. Em uma conversa franca, falou sem pudor sobre política, futebol, ambição, moda, vaidade, sexo e filhos. A entrevista na íntegra você lê na Marie Claire de junho, nas bancas a partir do dia 4.
MARIE CLAIRE Copa do Mundo, melhor jogador da FIFA, mais de mil gols. Por que entrou para a política se já era quase um herói?
ROMÁRIO
 Eu só tinha mesmo a perder. No futebol, cheguei ao topo. Quando entrei para a política me dei a oportunidade, negativamente falando, de jogar vários anos fora. Nunca pensei em ser político. Só que há oito anos tive uma filhinha, a Ivy, com síndrome de Down. Não há ninguém que represente essas pessoas, em nenhuma classe social. Aí pensei: “está na minha hora”. Já que deixei de jogar futebol, vou fazer algo por elas.
MC Por que acha que esperavam o pior de você?
Tenho consciência que era meio babaca, antipático, arrogante... Estava me achando muito. Isso aconteceu por que atingi o sucesso muito cedo na minha vida. Mas as coisas passam. Não quero que leiam essa entrevista e pensem: “o Romário está bonzinho”. Não é nada disso. Continuo sendo um cara de personalidade. Só que hoje eu penso duas vezes para mandar alguém para aquele lugar. Mas eu vou mandar! Sou um cara normal. Gente boa, sangue bom, maneiro, mas continuo tendo meus defeitos – como todo mundo.

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