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terça-feira, 21 de maio de 2013

Mano vê Brasil sem padrão e critica estrutura da CBF: 'Deixou a desejar'


Ex-técnico da Seleção analisa demissão, não acredita que grupo possa chegar favorito à Copa de 2014 e promete voltar a trabalhar em junho


Demitido da seleção brasileira em novembro do ano passado, Mano Menezes está de volta ao cenário. Ainda sem emprego, é verdade, mas com opiniões fortes e o desejo de ver o futebol brasileiro mais bem estruturado no futuro. Para o técnico, o ponto de partida da mudança tem de ser a Confederação Brasileira de Futebol.

- Penso que a nossa estrutura na CBF, como instituição voltada para o futebol, deixa a desejar – declarou o treinador em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, na tarde da última segunda-feira, em São Paulo.

Mano Menezes, que ficou de julho de 2010 a novembro de 2012 no comando da seleção brasileira, estipulou um prazo para retomar o trabalho como técnico (ou pelo menos voltar a analisar propostas): 11 de junho, dia em que completará 51 anos de idade. O treinador entende que sua missão agora é ajudar o futebol pentacampeão do mundo a encontrar um padrão, algo que ele não vê mais presente no país.

- Não temos padrão. Não sabemos como o futebol brasileiro joga. Se você olhar na Alemanha, há isso. Invariavelmente, todas as equipes da Bundesliga jogam muito parecidas. Isso é padrão – acrescentou o treinador, que por conta disso não acredita que a Seleção chegará como favorita à Copa do Mundo de 2014.
mosaico Mano Menezes entrevista (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Em uma conversa de pouco mais de uma hora, Mano explicou como foi sua demissão da seleção brasileira, disse que deixou seu planejamento com Carlos Alberto Parreira, falou sobre o futuro de Neymar e também a respeito de Andrés Sanches e do desafeto Romário, que o acusou de fazer “esquema” na CBF. Leia a íntegra da entrevista:
GLOBOESPORTE.COM: Como você recebeu a notícia de sua demissão da seleção brasileira? Acha que foi traído pelos dirigentes da CBF?
Mano Menezes: Recebi um convite para dirigir a Seleção em outra administração (sob o comando de Ricardo Teixeira). Iniciei e conduzi como achei que tinha de conduzir. Sabia que os primeiros momentos seriam duros, porque iríamos fazer uma renovação muito grande. E não tem renovação sem preço. Tínhamos uma consciência muito grande disso. Quando houve a alteração na presidência (Teixeira renunciou e deu lugar a José Maria Marin), tivemos uma conversa como gosto de ter. Sentei com o novo presidente e com o Andrés Sanches (então diretor de seleções), porque quem trabalha no futebol sabe que hierarquia é importante. Disse ao presidente, então, que entendia o direito dele de escolher o profissional que achava mais adequado para dirigir a seleção brasileira, porque é um cargo de extrema confiança. Coloquei essa situação muito clara para que ele tomasse as decisões que queria tomar. E que a única coisa que eu queria nesse processo todo era respeito profissional. E quando ele tomou a decisão da troca de treinador, eu acho que estava exercendo o direito dele. A maneira como isso foi feito, um pouco mais para cá ou um pouco mais para lá, cabe ao presidente, porque é da responsabilidade dele. Não me senti traído, apenas frustrado. Ainda mais num projeto dessa magnitude, na seleção mais vencedora do mundo. Iniciei um trabalho de quatro anos e quando as coisas começaram a engrenar, com mais ou menos dois anos e meio, eu saí. Não me sinto magoado e não tenho rancor, até porque nunca fui assim na minha vida.

Ser demitido na sua melhor fase na Seleção e não ter mais a chance de dirigir o time na Copa do Mundo no Brasil aumentaram a frustração?
Não pelo fato de a Copa ser no Brasil. Dirigir a Seleção é sempre uma missão grandiosa. São poucos os técnicos que receberam essa chance. Vou continuar sentindo muito orgulho por ter feito esses dois anos e meio da maneira que achava que deveria. Mas é óbvio que eu me sinto frustrado pela interrupção.

Você se sentiria mais respeitado, talvez, se tivesse sido demitido após um resultado ruim, se é que a medalha de prata pode ser considerada ruim?
Não cabe a mim fazer avaliação se deveria ser no primeiro momento ou no segundo. Não houve o aproveitamento de um resultado (para mandar embora). Se não, teriam feito depois da perda da medalha de ouro. As pessoas que tomam essa decisão têm sua responsabilidade. As escolhas são difíceis, assim como as minhas como o treinador. Eu convocava e convivia com contestações e incompreensões. O dirigente também. Eles sabem o que estão fazendo. E provavelmente pensaram fazer o melhor.
Mano Menezes entrevista  (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Mano Menezes pretende voltar a trabalhar no segundo semestre (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Certamente, o Ricardo Teixeira conversou com o Marin ao entregar a presidência. Talvez tenha até pedido que você fosse mantido no cargo. Mas com sua demissão, seria natural fazer o mesmo e passar para o Felipão tudo o que foi feito antes. Isso aconteceu? Você e o Felipão conversaram?
Não tenho conhecimento sobre o tipo de relação do Teixeira com o Marín. Conhecendo o Ricardo Teixeira como conheci nesse período, acho difícil que ele tenha feito algum tipo de pedido. Ele não interfere no trabalho de ninguém. Sempre te dá liberdade para fazer o que acha que deve ser feito. Presidente não pode estar toda hora conversando com seu técnico, dizendo que deve ser feito isso ou aquilo, se não ele estará tirando a autoridade do seu treinador. E se tem alguém que não pode perder autoridade para conduzir um time de estrelas, esse alguém é o técnico. Do técnico para o técnico, esse é um dos grandes problemas que a estrutura da CBF tem. Você não pode, quando sai alguém, não ter um profissional para deixar o que foi feito até então. E a CBF não tem essa pessoa. A CBF tem de ter um manager. Alguém efetivo, que não depende do técnico que chegue ou saia. Exatamente porque você precisa ter nessa pessoa todas as informações. E a pessoa que chega, no caso o Felipão, vai concordar ou não, vai fazer as modificações que quer. Mas precisa saber. Pela relação que vinha tendo com o Parreira (coordenador técnico da Seleção), já que várias vezes conversamos porque o procurei e tive nele uma pessoa muito correta para conversar sobre experiência, deixei todas as informações com ele. Ali tinha tudo especificado, número de convocações, tempo jogado, desempenho na Seleção... Obviamente que o Felipão teve conhecimento disso.

Quando assumiu a seleção brasileira, em julho de 2010, você fez uma renovação quase que total em relação à Copa do Mundo da África do Sul. Acha que isso atrasou o processo de construção da equipe?
Não acho que tenha atrasado, estava tudo dentro de um cronograma aceitável para o caminho que escolhemos. Sempre coloco isso com muito cuidado, porque as pessoas podem dizer que a escolha de ter feito uma transformação desse tamanho foi do treinador. E realmente foi minha como treinador. Então, não tenho de reclamar disso. Apenas tenho de entender que as pessoas não compreendem. No contexto do torcedor, ele quer ver a Seleção ganhando mais. E certamente eu poderia ter escolhido esse caminho mais fácil. Mas queríamos um caminho que, inclusive, contemplaria uma transformação do jeito de jogar, que paralelamente foi uma das bandeiras levantadas à época. Isso tem um custo. Tínhamos de passar por esse caminho e trabalhamos para passar com menos traumas possíveis.
 
Mano Menezes entrevista  (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Mano não vê padrão no futebol brasileiro atual
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Você participou do processo de reconstrução do Corinthians e viu o clube crescer em estrutura. O que você encontrou na CBF ao assumir estava muito aquém do que o futebol brasileiro representa para o mundo?
Essa é uma questão importantíssima para tratar. E deixando bem claro que não tem nada a ver com nomes individuais, porque essa é uma outra coisa que sempre fico triste quando abordamos os assuntos do futebol brasileiro. Se você fala uma frase, alguém sempre pensa que você está dirigindo a alguém. E nós gostamos de fazer isso, pessoalizar para criar polemica. Aí o outro responde, “brigamos” e não avançamos na discussão. E precisamos avançar sem brabeza, sem biquinhos. Apenas com ideias, discutindo as minhas com as de outros, de dirigentes, como gente grande, madura, porque me parece claro que não está bom. E quando não está bom, você precisa propor algo diferente. Caso contrário, vai continuar não estando bom. Penso que a estrutura na CBF, como instituição voltada para o futebol - e não estou envolvendo questões políticas -, deixa a desejar. Nós não temos um centro de treinamento adequado. O nosso foi feito com base em outra realidade, em outros tempos. É localizado em um lugar (Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro) que não favorece no período das competições mais importantes, que são no meio do ano. E nós sabemos que o clima da serra é pior nesse período. Temos questões de neblina, de deslocamento. Tudo isso precisa ser mais prático e mais atual. Quando ele foi feito, foi ótimo, mas hoje não é mais. Estava sendo planejada a construção de um novo centro de treinamento. E se discutiu muito o que seria contemplado nele. E eu defendo que a CBF deveria ter um centro de excelência, como outros esportes têm e outras seleções também. Isso é uma parte da história. E a outra é como a gente vê tudo isso, os profissionais que vamos trazer. Escolhas com filosofia muito clara. Fizemos uma escolha para a base (chamando Ney Franco para comandar a base e dirigir a seleção sub-20) e vimos o resultado. Essas escolhas são importantes. São elas que vão modificar o futebol brasileiro.

Esse resultado que você diz foi com Lucas, Neymar e Oscar?
Claro! Quando o Ricardo Teixeira pediu que eu fizesse paralelamente a coordenação das categorias de base, eu perguntei se era possível fazer um trabalho como eu acreditava. E ele disse: “faça o trabalho como você acha que deve fazer”. Mas não tínhamos até então um técnico com a capacidade e a trajetória que o Ney Franco tinha. E os jogadores que estávamos levando para a Sub-20 já eram titulares em seus clubes. Então, não cabia o mesmo tipo de comportamento que tinha até pouco tempo. Não que os outros não fossem bons, mas hoje a realidade é outra. Os jogadores se tornam titulares precocemente em seus times. E é preciso dar uma referência mais forte na Seleção. Esse foi o primeiro entendimento. Depois, tivemos de acumular o cargo, porque tínhamos de pagar um salário mais alto ao Ney e então demos também a coordenação geral. Fizemos, então, uma pesquisa rápida e poucos jogadores da base estavam chegando à seleção principal. Mas vimos resultado num curto espaço de tempo. Hoje temos Fernando, Lucas, Oscar e Neymar convocados para a Copa das Confederações. Lembrando que esse trabalho começou em 2011 e estamos em 2013.
Mano Menezes entrevista  (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Mano acredita que Seleção não chegará à Copa como favorita (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
No Brasil, pode parecer crime dizer que a Seleção não é favorita à Copa. Mas pensando friamente, é errado pensar que em 2018 o time estará mais maduro e mais pronto para vencer do que em 2014?
Não é errado pensar que em 2018 a equipe vai estar mais madura. O que é errado pensar é que ela não tem condições de ganhar em 2014, porque um futebol talentoso como o nosso sempre é capaz de ganhar uma Copa do Mundo. Da mesma maneira que perdemos algumas sendo favoritos, nós podemos ganhar uma não sendo. E isso (favorito) tenho certeza que não seremos até 2014. Tem outras seleções que vão chegar num estágio mais adequado e com mais maturidade. Uma delas é a Alemanha, que começou na Copa do Mundo da África do Sul esse processo. Alguns anos atrás, eles reuniram pessoas competentes para fazer uma análise do futebol e viram que não era mais o futebol de antes. Isso se estendeu como estrutura para todo o futebol alemão. A Alemanha fez isso muito bem.

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